Após o termino da aula, estão conversando do lado de fora de uma das sala um professor e um aluno. O professor é o João Macedo. O aluno, Renato.
"Professor, como o senhor deve saber, eu não sou um cara muito... falante! E, por eu não ser muito sociável, não sei conversar direito, entende? É por isso que eu queria a sua ajuda. O que eu posso dizer para conhecer uma garota e, o mais importante, conquistá-la?"
João fica confuso com o pedido do aluno. "Bem" ele começou. "Você poderia mostrar o seu interesse por ela. Faça perguntar pertinentes, não como um maníaco, mas como um amigo, o que eu já reparei que você já se tornou. Renato, eu te conheço muito bem, te acompanho a mais de 3 anos. Você é sobrinho do meu melhor amigo, então eu te conheço desde o dia que ele te adotou, claro que não oficialmente, mas isso mostra que eu o conheço muito bem. Meu conselho? Seja você mesmo. Não procure mudar por ninguém. Há um ditado muito bom que diz o seguinte: "Não procure pela pessoa certa, SEJA a pessoa certa". Sei que você é um garoto justo, educado, um cara que respeita as outras pessoas. Não mude, apenas tente ser um pouco mais sociável. Conheça pessoas, converse com elas". Poucos momentos de silêncio se passaram, apenas poucos segundos. "Esse é o conselho que eu tinha para dar. Espero ter ajudado".
Renato nem piscava com as palavras de seu professor, tentando absorver cada letra daquele conselho dado tão gentilmente por ele. "Obrigado, professor, o senhor me ajudou muito e desculpa ter ocupado o seu horário de almoço, sei que tem que dar aula em outro colégio e eu aqui te segurando. Vá lá e boa aula para o senhor. E desculpa mais uma vez pelo seu atraso". João só sorriu. Tava na cara que não houve problema nenhum, afinal, para ele, é um prazer ajudar um aluno, seja com o que for.
Ao fundo do corredor, escondida por detrás dos armários de ferro, há alguém a espreita, apenas observando os dois atentamente. Quando Renato começa a vir na sua direção, o tal vulto sai correndo pelos corredores. Renato apenas ouve os passos desesperados, mas não dá muita importância, afinal ele está em um colégio. Deve ser crianças correndo, pensa ele.
No pátio, enquanto as crianças e adolescentes esperam pelos seus pais, há algumas rodinhas de amigos formadas ao redor das mesas e até no meio do pátio. São muitos grupinhos, grupos que olharam e olham até hoje com o canto dos olhos para Renato. Um olhar torto como se dissessem para ele não chegar perto, um olhar de repulsa, de desprezo. Porém, ele não procura muito até encontrar Leila em uma das rodinhas e vai até ela com um sorriso no rosto e ignorando por completo o desprezo alheio.
"Olha lá, é o Renato!" disse, acenando para ele, Amanda, fazendo com que Leila, Júlia e Bruna se virassem também. "Você demorou um pouco. O que foi?" perguntou ela.
"Ah!, não foi nada, só fui tirar umas dúvidas com o João Macedo, nada de mais" disse ele abrindo um singelo sorriso logo em seguida.
A conversa continuou, Renato conversou, puxou assunto, riu, se divertiu... Mas o que ele não notou, foi que havia alguém com um olhar diferente para ele, um olhar penetrante, um olhar apaixonado para ele. Era Leila quem não parava de olhar admirada para ele. Sim, ela está apaixonada por ele. Ele também está por ela, mas um não sabe do sentimento do outro. Se ao menos ele parasse para olhar e reparar nos olhos de Leila, talvez ele tivesse a coragem de se declarar por ela também. Mas parece que isso será algo difícil de acontecer, afinal, pela primeira vez, alguém está realmente interessado nas suas palavras e na sua presença.
Dez minutos depois, apenas Leila e Renato ficaram. Amanda, Bruna e Júlia foram todas embora. "Sobrou só a gente..." disse ele. Ambos tentam disfarçar os olhares, desviando para os lados. Na mente dele, as imagens daquela madrugada em que ela estava falando dele lhe vinham... Tudo que ele pensou na hora estava de volta.
Um breve momento de silêncio, até que Renato vira-se para Leila, mas sem dizer uma sílaba sequer, porém, como se as almas dos dois estivessem ligadas, ela vira-se para ele ao mesmo tempo. Os olhares se encontraram, o momento se tornou mágico, o mundo deixou de existir, nada mais tinha importância, se não aquele momento. Renato olhou para aqueles olhos castanhos, olhos aqueles tão apaixonantes, tão profundos, o brilho daquele olhar fazia-o esquecer do mundo e ver apenas a alma nas profundezas daquele olhar. Uma alma que, quando era vista por Renato, o hipnotizava. Quando ele olhou bem fundo naqueles olhos, ele não viu a alma dela, mas se viu. Ou melhor, ele viu a alma dela e se enxergou nela.
O coração acelerou, os olhos piscavam com maior frequência, o sorriso involuntário aparecia em sua face. A mão tremia e se fechava em leves tiques. A respiração, junto com o seu coração, acelerou. Ele se viu perdidamente apaixonado por ela.
Porém, esse momento foi interrompido por uma buzina. Um carro estacionado bem em frente ao colégio fazia sinais sonoros. Era um homem com cabelos curtos e pouco grisalhos que chamava por Leila. Devia ser o pai. Ela, encabulada, disse que tinha que partir. Pediu desculpas e saiu em direção ao carro. Chegou lá, entrou e o homem, aparentemente, lhe vez uma pergunta. Leila saiu logo em seguida e, sem sair do lado do veículo, olhou para Renato que sorriu, mas percebeu que ela devia ter esquecido de algo. Olhou em sua volta e avistou a mochila dela a centímetros dele. Ele pegou a própria mochila e a dela e foi em direção dela, entregou-a e ela agradeceu, mas não saiu. Leila, vermelha, beijou-lhe a face, mas bem próximo a boca, entrou no carro e foi. Renato ficou imóvel e sem piscar.