segunda-feira, 2 de junho de 2014

Desabafo às paredes

  Boa noite. Meu nome é Jonas, e eu estou sozinho em casa. Sempre estive.
  Não sou ninguém importante, nenhum famoso e nem exemplar. Estive pensando hoje nas minhas horas vagas que sou quase inútil, uma pessoa fútil. Tenho 19 anos e não trabalho, não faço nada muito especial, tenho amigos como qualquer um, mas não sei dizer se faço o que deveria fazer. Sei que tem muito o que devo fazer para alcançar os meus sonhos, mas essa merda de sociedade me pressiona para ser alguém. Tenho que trabalhar, ser excepcional, estudar e ser o melhor. Porra, depois que parei e pensei, os meus antigos amores agem como se eu não existisse, e talvez não mesmo, não sou o "orgulho da família" e não tenho nada que me orgulhe.
  Não me mato de estudar, não tenho emprego, não tenho garota nenhuma que me ame e que pense em mim antes de dormir. Sou fútil. E tudo isso para que? Seguir uma sociedade que diz ser livre, mas nos molda para uma única regra, um padrão onde temos que crescer na escola, estudando para dar orgulho aos pais como mais um engenheiro, médico, advogado ou cientista renomado, trabalhar, tirar carteira de motorista, encontrar uma garota com que partilhem amores um pelo outro, casar, ter filhos, se aposentar, ver seus filhos e os filhos deles seguirem os mesmos passos seus e morrer, deixando tudo isso para trás.
  Infelizmente, não temos escapatória. Não serei lembrado por outras gerações, não serei alguém de destaque. Apenas mais uma pessoa que se passa nessa vida. Não sendo um gênio.
  Na real, eu acho tudo isso um saco. Uma grande merda mesmo. A pior parte é que, se eu não fizer nada para seguir os padrões, vou, no mínimo, passar fome. Tenho que estudar para ser alguém. Conseguir um emprego no mínimo para ganhar o meu suado dinheiro para sobreviver, esperando a minha amarga morte.
  Sou Jonas, mas poderia ser Pedro, Leonardo, João, André, Bruno, Rodolfo, Carolina, Amanda, Maria, Daniela, Patrícia, Natália, Vitória ou qualquer outra pessoa. Poderia ser você, mas sei que, depois de terminar de ler essas palavras que escrevo em um quarto, deixando apenas as paredes ouvirem a minha voz, ditando o que escrevo, você irá voltar a estudar, a trabalhar, a ser alguém nessa vida tediosa que todos levam.
  No fim, quem é o verdadeiro medíocre?