Boa tarde. Como foi a sua semana?
Entendo...
Bem, como o prometido, lhe direi como foram os meus dias aqui nesse inferno na terra. Acomode-se bem.
Cheguei aqui e rapidamente me adaptei. O meu companheiro de cela é um cara legal. Tatuador que foi preso devido ao envolvimento dele no mundo das drogas. Mexia com maconha, LSD e lança-perfume. Muito educado ainda por cima. Fiz amizade também com um grupo de detentos que nunca se envolvem em confusão. Alguns são pais de família que tentaram roubar um pouco para levar alguma coisa para alimentar filhos, filhas, esposa... Um crime que não devia levar à prisão. Acredito eu que pessoas assim deviam receber algo como uma cesta básica ou sei lá. São pessoas que foram levadas ao mundo do crime devido à nossa sociedade.
Mas enfim, não vim falar de política ou sociologia. Continuemos.
Passei a escrever dia sim dia não para a minha amada Jade. Contava a ela que sentia a sua falta e de como estava sendo os meus dias na prisão. Infelizmente não recebia carta alguma.
Certo dia eu recebi. Uma carta num envelope velho e amarelado que nele continha uma pequena carta em um papel de caderno amassado. Nele estava escrito a minha condenação. A condenação da minha alma. Pra você pode não fazer sentido algum, mas em mim bateu um forte sentimento de desprezo. Na carta estava escrito apenas "Desculpe-me, por favor". Sabia que, depois de tudo, ela não iria querer ficar comigo. Encontrou outra pessoa, outro homem que saiba amá-la como eu nunca soube. Alguém que a deseja mais do que eu desejei. Alguém que a faça feliz. Só pode.
Depois disso, entrei em depressão. Não comia direito, não dormia, nem sequer chorava, apesar de tudo. Ficava apenas olhando fixo para o nada, imóvel sem esboçar alguma reação. Meses se passaram e nenhuma melhora. Perdi muito peso, desidratei, adoeci e até tentei me matar. Me cortei, me enforquei e até arranjava brigas sem motivos na esperança de que algum brutamonte aqui me matasse na porrada. Infelizmente eu sempre fui um ótimo boxeador.
Comecei a fumar e fiz algumas tatuagens aqui na prisão. Foram dias horríveis, um verdadeiro inferno onde os demônios tinham forma de pessoas que conviviam e interagiam comigo normalmente. Eu virei um deles. Ninguém nunca soube realmente quem eu sou. Eu não sou ninguém. Sou todos os homens também. Sou o seu vizinho. Seu pai e seu filho. Um desconhecido, talvez. Sou trabalhador, sou vagabundo. Milionário e miserável. Sou homem, mulher, criança. Esposa, filha, irmã, sou o que quiser que eu seja. Anjo e demônio. A verdade mesmo é que EU SOU VOCÊ!