quarta-feira, 30 de julho de 2014

Uma história sem título - Capítulo 5°

  - Vamos dorminhoca, hora de levantar. Vai se atrasar para o seu primeiro dia na faculdade. - Grita Juliana arrancando as cobertas de cima de Rebeca e abrindo a janela, deixando a luz do sol invadir o quarto.
  Rebeca se levanta aos poucos, ainda lembrando da noite anterior. "Como eu vim parar aqui" ela pensa. "Não me lembro de ter caminhado para o meu quarto, muito menos voltado para casa" ela esfrega os olhos, franze a testa e passa a mão no cabeço despenteado. "Será que foi tudo um sonho? Não pode ser". Rebeca então cheira a sua roupa e sente o cheiro de Gus. Deixou, sem perceber, escapar por entre os lábios.
  - Será que ele esteve aqui?
  Juliana, que estava se arrumando no banheiro, se adiantou à fala egocêntrica de sua prima. - Você dormiu no carro dele. Ele te trouxe e te colocou na cama. Estava desmaiada. Ao menos ele é educado.
  Rebeca enrubesceu-se e calou, deixando escapar um leve sorriso no canto de sua boca. Levantou-se, então, feliz, pois a noite fora real. Deitou ao lado daquele homem e ficaram olhando as estrelas. Sentiu o bater ritmado do coração dele, o doce toque das mãos dele em suas costas. Ela o sentiu como nunca havia sentido homem algum.
  Enquanto isso, não muito longe, Gus está finalizando as suas pesquisas no jornal. Nervoso devido ao pouco tempo que tem, ele olha, de vez em quando, para o seu celular. Nele, há a uma foto de Rebeca, a única que ele tem dela. Ela tirou quando estavam sentados no parque rindo. Ele não para de pensar nela.
  Lá na universidade, Rebeca está tímida, andando pelo campus com a cabeça baixa, passos lentos, fone de ouvido e sozinha, procurando o lugar da sua primeira aula. Meio perdida, ela anda sem rumo a procura do lugar certo, mas com vergonha de perguntar a alguém. Um jovem rapaz de cabelos negros aborda ela após reparar que aquela moça parecia estar perdida.
  - Oi! Com licença... Você é uma caloura?
  - O-oi - Disse rebeca tirando o seu fone enquanto o cabelo cobre o seu olho esquerdo - Hoje é o meu primeiro dia, então eu não sei onde tenho que ir.
  -Me desculpe, não me apresentei. O meu nome é Marcelo.
  - Rebeca, Prazer. Pode me ajudar? Sabe me dizer para onde eu tenho que ir?
  - Tudo bem - Disse ele simpaticamente - Aconteceu quase a mesma coisa comigo. A diferença é que ninguém me ajudou e eu cheguei na sala faltando 20 minutos antes de terminar a aula. - Eles riram - Onde precisa ir? Qual é a sua primeira aula?
  Rebeca fica quieta, mas mostra um pedaço de papel contendo as informações que ele queria saber. Ele lê e, rapidamente, abana a cabeça levemente.
  - Entendi. A sua aula começa daqui uns 10 minutos neste prédio atrás de mim. A sua sala fica no segundo andar. De lá, você saberá onde fica a sua próxima aula, então não se preocupe. As salas tem número, é só achar a sua. 
  Ela agradeceu meiga e timidamente enquanto ele responde com um simples sorriso e cada um segue o seu caminho.
  Ao chegar na sua sala, sentou em um lugar aleatório e ficou esperando junto a um livro.
  - Bom dia, classe! - Veio uma voz algum tempo depois que ela chegou. Guardou o seu livro e se preparou para a aula que estava a começar. Quando olhou para o professor, alguém que ela jamais imaginaria que poderia ser. - O meu nome é Marcelo e eu sou seu professor hoje e serei o seu professor nesse mesmo dia nessa mesma hora durante o resto do seu primeiro período. - Ele olhou para Rebeca e deu um sorrido. - Espero que gostem do curso assim como eu gostei. Garanto-lhes uma coisa: Vocês não vão se divertir e alguns de vocês vão, praticamente, me odiar.... O resto com certeza.  - A turma riu.
  Rebeca abaixou um pouco a cabeça e simplesmente sorriu. Quando ele a olhou novamente, ela disse, sem emitir nenhum som, "Obrigada". Ele entendeu e simplesmente sorriu.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Uma história sem título - Capítulo 4°

  Alguns dias se passaram. Enfim, um dia antes do primeiro dia de aula da Rebeca. Gustavo decidiu, então, propor de se verem mais uma vez antes dela ficar ocupada demais com a faculdade. Foram se ver então numa praça próxima.
  Domingo, por volta das 17 horas. Gustavo está sentado tomando um picolé esperando pela chegada de Rebeca. Bermuda jeans, tênis, uma camiseta branca lisa e um boné. Simples e bem vestido para um domingo no parque. Num dado momento, ele olha com o picolé na boca para a esquerda e percebe vindo, ao fundo, uma moça com longas pernas brancas andando formosamente em sua direção. Ela está vestindo sandálias, um pequeno short e uma regata. Seu cabelo ruivo o hipnotizaram, até pareciam estar em "câmera lenta" ao vento. Gustavo ficou boquiaberto devido à beleza de sua acompanhante vindo ao seu encontro.
  - Você está.... linda! - Disse ele levantando quando ela chegou perto.
  - Obrigada. Então - Disse ela sorrindo meio tímida devido o elogio - o que pretende fazer?
  - Não sei. Andar por aí, conversar, e talvez decidir algo durante o dia. Vamos apenas viver. Deixar as nossas vontades tomarem conta do nosso destino hoje.
  "Se dependesse dos meus desejos mesmo, acho que não seria muito aceitável e você sairia correndo de mim, meu querido Gus". A cabeça de Rebeca fica agitada, diferente dela e do seu olhar fixo aos olhos dele. Eles caminham lentamente pelo parque. Conversam sobre o clima, política, música, tecnologia, história, entre vários outros assuntos. Bem, Gustavo fala mais do que ouve. Rebeca fica admirada e escuda cada palavra que sai por entre seus pequenos lábios.
  - Quer um sorvete? Eu pago.
  - Não precisa...
  - Eu insisto! - adiantou ele - Dois, por favor. Um de Limão e um de... Do que você quer? - Rebeca fica em dúvida, mas falou que não precisava. - Você gosta de limão? Então dois de limão, por favor.
  - Você não tem jeito, né Gus?
  - O que? Tá quente, picolé é gostoso e eu não to afim de tomar outro sozinho. Vamos. Quer sentar em algum lugar?
  Sentaram, por fim, sob uma árvore alguns metros de onde estavam. O vento ajudava a refrescar um pouco o clima.
  - Sabe, gosto muito de sorvete. Acho que pode se dizer que é a comida preferida.
  - Mas não seria "sobremesa"?
  - Sobremesa também é comida. Doce é comida. Por que não poderia dizer que sorvete é comida? - Perguntou Gus rindo, sem esperar uma resposta, e assim se seguiu.
  - Então, Gus, como está no trabalho?
  - Parece que vou precisar viajar no fim de semana. Preciso cobrir uma matéria sobre um festival de balonismo mineiro. Vou terça-feira de manhã para lá. Tenho que preparar tudo antes de ir. Vai começar quinta e termina segunda-feira. Volto só na outra terça. Vai ser cansativo, mas, pelo menos, vai render uma grana extra devido ao tempo, desgaste e tudo o mais.
  - Onde vai ser esse festival?
  - São Lourenço. 9 horas de viajem quase. Vou de carro, vou tranquilo, sozinho. Sem problemas. Adoro a estrada., principalmente pelo fato de que eu vou estar um tempinho a sós com o meu Chevy. Eu não sei o que faria sem aquele carro.
  - Bem, cuidado na estrada. Me dá um toque antes de ir? Quero, se me permite, me despedir.
  - Despedir? Vou ficar uma semana fora a trabalho. Coisa simples. Não se preocupe. As vezes eu faço viagens assim. Mas tudo bem, se quer mesmo, eu te ligo. Mas é bem cedo que eu vou, não reclama de estar te acordando depois.
  - Não se preocupe
  O riso deles pareciam sincronizados, ensaiados.

  O tempo e engraçado. Nos dias mais divertidos, quando estamos com as pessoas que mais gostamos, fazendo o que amamos, parece até que o tempo fica com ciúmes e corre, fazendo que chegue, quando menos se espera, o momento da despedida. "Quem dera Deus permitisse a mim parar esse tempo apressado para que ficasse mais um pouco com ela" pensou Gus.
  Já é de noite, e ambos precisam ir para casa. Gustavo ainda tem muito o que arrumar para a viajem e ainda tem uma matéria incompleta que tem que terminar antes da viajem. Rebeca tem o seu primeiro dia de aula. São quase 8 horas da noite e eles estão deitados na grama olhando o céu.
  - Eu adoro as estrelas - Disse Rebeca após um suspiro longo.
  - Sabe, eu também. Mas eu quase nunca olho aqui na cidade. Muita gente em volta, carros, prédios, movimento... Eu gosto de ficar em um lugar mais tranquilo para fazer isso. - Sem perceber, Gustavo deu uma pista sobre o seu "lugar secreto" onde vai quando quer fugir da rotina.
  - Como assim? Onde você olha as estrelas? - Disse ela levantando o tronco e olhando com dúvidas para ele.
  - Eu tenho um lugar especial. Quer conhecer?
  Então foram eles em direção ao carro dele. Após alguns minutos, estavam na estrada. Rebeca estava confusa, queria saber por quanto tempo iriam ficar na estrada. E quanto mais o tempo passava, mais receosa ela ficava. Não sabia onde ele estaria a levando, mas, por algum motivo, sabia que estava segura com ele e só com ele.
  Depois de quase uma hora na estrada, chegaram, enfim, ao lugar que Gustavo tanto vai.
  Surpresa ao olhar para cima e ver as incontáveis estrelas a mais no céu, Rebeca fica boquiaberta e com um sorriso enorme no rosto.
  - Vem! - Disse Gus. - Deita aqui no capô. Dá para ver melhor.
  Ela olhou para ele sem tirar aquele doce sorriso bobo do rosto e foi ao seu encontro sobre o carro. Deitaram, por fim, lado a lado, pousando as mãos sob suas cabeças e ficaram olhando as estrelas. Ele falava sobre as estrelas, constelações e galáxias. Ela olhava para ele de canto de olho com um sorriso, admirada com cada palavra dele. Como que num impulso seu, ela se aconchegou no peito de Gus. Ele fez uma pequena pausa no discurso, sorriu meigamente e continuou falando após abraçá-la. O sorriso não saía do seu rosto.
  Após algum tempo olhando as estrelas, ele decide que seria melhor irem embora por já ser bem tarde. Quando ele vai chamar pela Rebeca para irem, ele percebe que ela adormecera com um lindo sorriso no rosto. Ele fica feliz. Com calma, apoia a cabeça dela no capô, sai de cima do carro e coloca-a no banco de trás, pondo o cinto do lugar do centro nela e parte de volta para a cidade.
  "Ela fica linda dormindo".

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Uma história sem título - Capítulo 3°

  -O que foi aquilo?
  Juliana e Rebeca acabaram de chegar em casa. Ao fechar a porta, Juliana fez tal pergunta à sua prima.
  - Aquilo o que? - Rebeca se fazendo de desentendida.
  -Você pegou da minha bolsa, arrancou um pedaço de papel do meu caderno e usou a minha caneta para anotar o seu telefone para um casa que você acabou de conhecer numa cidade que você acabou de chegar.
  - Ah, isso... Eu sei lá. - Ela se vira de costas e, corando, sorri timidamente olhando para cima lembrando do doce cheiro daquele homem que despertara algo que nem mesmo ela sabia que existia, uma sensação recém descoberta que Rebeca, sem medo algum, quer explorar até o fim.
  Juliana ri. - Você não tem jeito. Rebeca "arrasa corações".
  -Para! Nem sei se ele gostou de mim. Dei o telefone por... por....
  - Idiotice? Burrice? "Carentice"?
  - Impulso. Mas não vou ficar louca esperando um contato do Gus.
  - Gus? Isso lá é nome de homem? Ta mais pra cachorro babão.
  - Gus é apelido. O nome dele é Gustavo.
  -Entendi... - Juliana olha de canto de olho para Rebeca. Imaginando o que poderia estar passando naquela cabeça ruiva.

  Quinta-feira. 6:30 da manhã. Gustavo levanta num salo, alegre pelo novo dia. Fez a sua rotina e foi para o trabalho. Ele estava, definitivamente, pensando nela.
  Ao chegar no trabalho, não desgrudava do celular, pensando se seria certo mandar uma mensagem à ela, ou se é melhor ficar quieto. "Ó duvida cruel". A mente dele dramatiza o próprio momento de dúvida. Chegou até a escrever, mas os dedos travaram na ora de "enviar", até que deixou, com a mensagem escrita, o celular de lado e vou resolver outros assuntos, como se para esvaziar a mente, mas que era sua obrigação, afinal, tem que trabalhar.
  E o dia se passou até o fim do mesmo jeito. O celular com a mensagem escrita e, toda vez que Gustavo o pegava, paralisava, pensando se realmente devia ou não enviar. Até que, próximo do fim do dia, ele decide enviar, mas quase se arrepende em seguida. "O que estou fazendo? Pareço um adolescente. Caramba, eu tenho 25 anos, não preciso ficar com medo assim. Vou esquecer isso. Já foi, já enviei e pronto. Que babaquice a minha". Antes que chegasse no carro para voltar para casa, recebe a resposta.
  - "Gostei de conversar contigo ontem, Rebeca"
  - "Eu também. Podemos sair qualquer dia desses para conversarmos mais" - Um sorriso de canto de boca lhe apareceu involuntariamente.
  - "Verdade. Esses dias por agora não dá, pois tenho algumas matérias importantes para cobrir. Mas assim que conseguir um momento legal, podemos sair sim. Vai ser interessante".
  - Tá marcado então, senhor "ocupado". - Ele deixou escapar uma risada. Entrou no carro e dirigiu até em casa. Nisso, ficaram quietos. Não houve mais nenhuma mensagem enviada até a chegada em casa.

  -Não acredito. Realmente não acredito. - Rebeca olha com indiferença para a amiga que se fazia de "indignada". - Você está dando mole para um cara bem mais velho que você?
  - Não é "bem mais velho". Ele só tem 25.
  - E você 19. Você não tem jeito mesmo.
  Rebeca se deixou cair de costas na cama. - Não sei explicar, eu senti algo que jamais havia sentido na vida. Parecia até o destino gritando na minha cara "É ele".
  - Para, né. Esse papo de destino de novo? E outra, se o destino "gritou" na sua cara, se eu te conheço, deve ter dito "Não larga desse cara se não vai virar uma solteirona cheio de gatos".
  - Não vale, Ju. Sabe que eu gosto de gatos. Maldade com os bichinhos.
  Juliana se jogou sobre Rebeca e as duas ficaram rindo.
  Algum tempo depois, quando pararam de rir, Rebeca soltou um suspiro longo. - Mas é sério, - disse ela - eu senti algo com ele, senti algo nele que era diferente. Ele é lindo, cheira bem, faz jornalismo e me perdi nos seus olhos azuis. E o melhor de tudo: De tudo que conversamos, percebi que ele tem, no mínimo, bom caráter. Mas quero sair mais com ele e conhecê-lo melhor.
  - Ao menos isso...
  Depois, as duas ficaram conversando sobre outros assuntos completamente diferentes. Fizeram a janta juntas, rindo e conversando. Elas estavam se divertindo como se fossem crianças mesmo. E quando menos esperava, Rebeca recebe uma mensagem. Rindo, ela pega o celular, mas, aos poucos, as feições vão mudando para um ar mais sério. Quando Juliana já estava se preocupando, afinal, algo grave pode ter acontecido, Rebeca deixa escapar um pequeno e singelo sorriso no canto de sua boca. - É ele, não? - Perguntou sua prima com toda a calma. Muda, ela apenas mexeu levemente a cabeça cima a baixo, apertando o celular contra o peito, e sorrindo cada vez mais feliz com o que acabara de receber. Ela digitou algo rapidamente e voltou à programação que fora interrompida.
  Depois de muita risada, brincadeiras e sujeira, finalmente estava pronto. Uma leva de 6 cupcakes. "Agora vem a melhor parte" pensou Rê, e, após tirar do forno, começaram a decorar delicadamente um por um dos bolinhos. Cada um recebendo uma decoração diferente. Bagunça e muita sujeita depois, estava pronto. Comeram, saborearam e chegaram ao veredicto de que estavam todos perfeitos. Mas havia sobrado um que Rebeca escondera. A cobertura era simples: Um espiral de chantili com o escrito "GB"
  Mais tarde, quando se deitaram, Rebeca com o celular sobre o peito e com um sorriso enorme na face, adormece alguns segundos antes da luz do aparelho se apagar.
  - "Boa noite Rebeca Tayllor"
  - "Boa noite Gustavo Bertran"

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Uma história sem título - Capítulo 2°

  Quarta-feira, algo em torno de 8:30 da noite. O dia que ninguém poderia imaginar que teria uma festa. Gustavo está indo no seu Camaro 71' preto para a casa de Ângela, prima do seu melhor amigo. Música, bebida e mulheres. Paraíso para muitos dos homens, mas não necessariamente para Gustavo. Devido à uma traição imperdoável de uma garota chamada Fernanda, ele foi forçado a romper há algumas semanas o seu relacionamento que estava próximo de completar 2 anos, nisso, o fator "garotas" já não teria mais tanto impacto para ele. A música, quando em exagerada amplitude, o incomodava, por isso que nos ensaios ele usava um fone de ouvido, pois abafava parte do som, deixando-o confortável.
  Chegando na casa, encontra logo na porta Bruno, André, Ângela, Daniel, guitarrista da banda, e Vitória, namorada de Daniel. Ao verem o carro do Gustavo, param o assunto.
  - Olhem quem chegou! - Gritou, interrompendo a conversa, Bruno.
  Descendo do carro, meio tímido, Gustavo ergue a mão, acenando ao pequeno grupo. - Olá, pessoal.
  - Estávamos falando do ensaio de sábado. Vê se não falta.
  - Pode deixar. Oi Ângela, obrigado pelo convite.
  - Não esquenta com isso. Relaxa e curte a festa. Chegou boa parte dos convidados. Divirta-se. Coma e beba à vontade. Mi casa es su casa. Talvez encontre algum conhecido.
  - Obrigado.
  Diferente do exterior, o interior da casa estava com uma iluminação escura de "luz negra", música razoavelmente alta, o bastante para que Gus ainda suporte, muita gente conversando, rindo e dançando. A casa tem um interior relativamente grande. A cozinha americana se parecia mais com um bar. Bebidas à vontade e um barman cuidando de tudo, há muita comida próxima também. Gustavo fez um pequeno prato de salgadinhos, pediu uma bebida e ficou lá no bar mesmo, tentando deixar que a "festa o contamine", ao menos, era o que ele queria. "Deixe o clima da festa te contaminar, Gus" pensou ele de olhos fechados.
  Meia hora se passou e nada. Ele só queria ficar ali, ouvindo a música, comendo, bebendo e pensando nas coisas que tem que fazer no dia seguinte. Até que sentou-se ao seu lado uma garota jovem. Não lhe dava muita atenção, mas também não queria muita atenção de ninguém. Ela queria era ficar ali parada bebendo o seu drink. Gus apenas a olhou, mas achou melhor ficar quieto e abaixou a cabeça com o copo entre as mãos sobre a mesa.
  A moça olhou que Gustavo estava do mesmo jeito que ela e deixou escapar um riso, mas passou desapercebido por ele. Ela fica o olhando. A luz não ajuda muito com os detalhes, mas ela o olha mesmo assim.
  - Dia difícil? - Ela decide quebrar o silêncio depois de poucos minutos.
  - O que? Ah não, só não entrei no clima da festa mesmo. Eu sou daqueles que está no canto vendo todo mundo dançando e rindo.
  - Entendo. Não gosta de dançar?
  - Até gosto. Mas tem dias que eu só quero ficar sentado, tomando um... um... - Ele olha para o seu copo tentando decifrar que drink é este que ele bebe - Um seja lá o que isso for e vendo o povo dançar. Fico aqui na minha, não incomodo ninguém e a noite vai indo assim.
  - Ah sim... Como hoje. - Ela olha para baixo - Desculpa, não me apresentei, meu nome é Rebeca, Rebeca Tayllor. E o seu?
  - Gustavo Bertran. Prazer. Pode me chamar de Gus mesmo.
  - Prazer. Então, Gustavo, quantos anos você tem?
  - Eu tenho 25. E você?
  - Eu fiz 19 semana passada.
  - Olha só! Parabéns!
  - Obrigada. Gus, se importa se continuarmos nossa conversa lá fora? A musica tá muito alta pra mim.
  - Tudo bem - E sorriu para ela, enquanto se levantavam.
  Ao chegar lá fora, ele repara nos cabelos ruivos que jamais havia visto, nisso, a sua boca se entreabriu, seus olhos brilharam e algo que jamais sentira para tamanha beleza lhe veio instantaneamente. Ela se virou para ele, seus olhos castanhos claros o hipnotizaram, deixou-o a mercê do seu feitiço. Teria ele se apaixonado pela garota ruiva de 19 anos? Assim tão rápido? Não é possível.
  Enquanto isso, Rebeca ao olhar para ele viu nos cabelos negros como a noite e olhos azuis escuro uma sensação que jamais sentira. Não só pela beleza, mas algo que emanava daquele homem que ela não sabia explicar, mas que fazia com que ela não conseguisse resistir. Algo que parecia chamar ela e, sem resistir, aceitava. E a boca? Aquela pequena boca parecia um elixir que ela queria usufruir cada dia mais. "No que estou pensando? Eu acabei de conhecê-lo, não posso estar tão louca por ele assim. Não posso ter me apaixonado por um cara que acabei de conhecer. Não é possível". Talvez seja.
  Ambos ficaram quietos por um instante, como se tentassem cada um se acostumar ao que acabara de sentir. Risos e trejeitos aleatórios ao invés de palavras. Gustavo tomou calma o bastante para romper com o silêncio.
  - Então... Rebeca, o que você faz?
  - Faço medicina na UFU. Assim, vou começar agora. Esse é o meu primeiro ano na faculdade. Nem sei o que esperar. E você, Gustavo, o que faz?
  - Eu sou jornalista. Me formei com 22 anos em jornalismo na UnB, um ano depois recebi uma proposta irrecusável para vir a Uberlândia. Adorei a cidade, fiz alguns amigos aqui.
  - Você é de Brasília?
  - Não. Sou de São Paulo. Mas fui pra capital aos 17 para fazer faculdade. Você é daqui mesmo ou, como eu, uma "semi-nômade"? - Ela riu da graça dele.
  - Mais ou menos. Sou de Belo Horizonte. Estou na casa da minha prima. É graças a ela que estou aqui. É amiga de uma menina chamada Ângela e, para comemorar a minha chegada, me trouxe a essa festa.
  - Seja bem-vinda. Qualquer coisa que precisar, pode me ligar.
  - Pode deixar. Vou ligar mesmo - E riram mais um pouco.
  Ao fundo, uma garota vem a passos lentos chamando pela Rebeca.
  - Rê, você está aqui. Eu estou indo embora. Vai junto?
  - Desculpa Gustavo. Essa aqui é a minha prima, Juliana. - Ela estende o braço à prima. - Ju, esse é Gustavo. Tava conversando com ele. - Ela chega perto do ouvido de sua prima e sussurra para ela - Temos que ir mesmo?
  Antes que pudesse responder, Gustavo se adiantou. - É bom irmos mesmo. Já está ficando tarde e eu tenho que trabalhar amanhã. Foi bom te conhecer Rebeca. Juliana....
  Espere! - Disse rebeca puxando, da bolsa da prima, um caderninho e uma caneta. - Me manda uma mensagem ou me liga. - Ela entregou um pedaço de papel rabiscado com números que devem ser do telefone dela.
  - Pode deixar. Até mais e bem-vinda a cidade.
  - Obrigada!
  E cada um seguiu a sua direção.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Uma história sem título - Capítulo 1°

  Noite estrelada de um verão qualquer. Qualquer? Não diria isso, não pelo o que viria a acontecer. Vamos tentar de novo.
  Noite estrelada do verão de 2012. Era começo de janeiro quando Gustavo dirigia o seu "Chevy" numa estradinha perto de Uberlândia. Sem rumo ou sequer destino, ele decide parar no acostamento. Campo aberto e longe da cidade, era tudo o que ele queria.
  Deitou no capô do seu Camaro 71' que era do seu pai e que, após o seu 21° aniversário, passou a ser seu e ficou admirando a imensidão do universo, a beleza das estrelas. Ficou por um pouco mais de uma hora deitado ao som do vento e dos poucos carros que passavam.
  - É, acho que tenho que ir pra casa. Não dá para dormir aqui. Principalmente você - Disse Gustavo dando um tapinha no seu carro. Entrou nele e dirigiu de volta para a cidade por cerca de 30 minutos.
  Chegando em casa, Gustavo pega um bolo de cartas com o porteiro e sobe ao seu apartamento. 9° andar. Enquanto sobe, analisa, sussurrando para si, os papeis em suas mãos. -conta, conta, conta, propaganda, conta, propaganda, propaganda... Que surpresa... conta.
  Enfim em casa. Contas sobre a mesa e propagandas no lixo. Enquanto se despe, ouve as mensagens da secretária eletrônica.
  - Guga? Cara, quando chegar em casa me liga. Precisamos falar sobre as novas da banda. O André conseguiu marcar uma hora sábado naquele estúdio perto de casa que é mais barato. Tudo bem? Me liga cara, é o Bruno.
*Bip*
  - Gustavo, aqui é o Daniel, da empresa. Terminou a matéria dos imigrantes? Preciso dele para amanhã. Assim que puder, vá para a minha sala e entregue. Obrigado.
*Bip*
  - Ótimo... Mudança de planos. Ainda bem que eu terminei, só não dei a revisada final. - Vai à sua mesa e revisa a matéria que escrevera.
  Bem, vamos aos fatos. Gustavo é um jornalista de um grande jornal de Uberlândia, não é renomado, mas consegue pagar as contas. Mora sozinho e é baixista de uma banda. André e Bruno são dois dos seus melhores amigos. Eles se conheceram na faculdade, mas André largou logo após o primeiro ano e decidiu fazer psicologia. André é o baterista e Bruno é o vocalista. O som deles tem influência de bandas como The Calling e Nickelback e estão juntos desde a faculdade.
  Daniel é o seu chefe. Exigente, mas com um grande coração. Sempre que surge uma brecha, ajuda o Gustavo. Mesmo assim, ele não pega leve, sabe do potencial do Gus e procura extrair o máximo disso.
  Enfim, depois de revisar tudo, são quase duas da manhã. "Acho que tenho que dormir" pensou Gustavo. Com 1,80 m de altura, magro e sem porte atlético, se deita apenas com a sua cueca samba-canção preta e azul. É fim de mais um dia comum na vida do nosso protagonista.

  Quarta-feira, 6:30 da manhã. Gustavo se levanta com sono ainda, toma um banho para acordar, coloca sua roupa de todo dia, pega a maleta preta com o seu notebook e vai ao trabalho. Chegando lá, coloca a maleta na mesa e, sem parar, vai em direção ao escritório de Daniel.
  - Olá, Gus! Bom dia!!! - O bom humor sempre tomou conta dele. Gustavo nunca o viu triste, chateado, bravo irritado, estava sempre com um sorriso no rosto e simpático com todo mundo. - Trouxe o que lhe pedi?
  - Ah sim, está aqui - Gus lhe entrega um pequeno pen-drive - Cheguei a noite e só então vi a sua mensagem. Sorte que já havia feito a matéria antes de sair.
  - Ótimo, ótimo. Sente-se, por favor. Como está o seu pai? Forte como um touro?
  - Sim sim. Ele se diz aposentado, mas não para quieto. Arranja sempre alguma coisa para fazer. Esses dias ele estava arrumando o seu Corcel. A garagem dele mais parecia uma oficina de beira de estrada, cheio de peças por aí... Mas muito organizado. - Eles riram.
  - Fico feliz. E você está bem? Tudo tranquilo...?
  - Estou sim. As vezes saio de carro a noite e vou até aquela estrada ao norte para esvaziar a cabeça e ver as estrelas. - Alguns instantes de silêncio tomaram conta da sala - Bem, vou trabalhar. Tenho que fazer a pesquisa para a matéria de sexta e não quero me atrasar. Abraço, Daniel. Qualquer coisa, é só chamar
  - Obrigado, Gus. Boas pesquisar - E saiu.

  Meio dia. Hora do almoço. "Se der tudo certo, consigo dar uma passada em casa ainda". Pegou as suas coisas e foi embora. Decidiu almoçar em casa mesmo. Lembrou de uma lasanha congelada da semana passada e decidiu que era hoje que ele iria acabar com ela. Entrou no Chevy e foi embora. Ritmo calmo e sem pressa, foi aproveitando o caminho ao som de Pink Floyd. Nisso, o seu telefone toca. é o Bruno. Ele deixa no viva-voz:
  - Diga.
  - Hey man, ta sabendo da festa de hoje a noite?
  - Não. Que festa?
  - Na casa da Ângela, minha prima. Achei que já tinha escutado a minha mensagem.
  - Não escutei nada. Tava no trabalho. Que festa é essa, cara?
  - Uma festa básica. Álcool, música boa, festa, mulheres lindas para nós... O que me diz? Topa?
  - Não sei não... Em se tratando de "mulheres", sabe como estou ainda por causa da Fer.
  - Ah sim... a Fer...
  -Sem contar que não gosto muito de ambiente muito.... Barulhento.
  - Relaxa, cara. Qualquer coisa, vai só pra bater um papo com os brothers, comer alguma coisa e pronto. Se ficar insuportável para você, pode ir embora. Não vou te impedir.
  Alguns instantes de silêncio. Gustavo dá um suspiro longo e pensativo. - OK, eu topo. Onde e quando?
  - Lá na casa da Ângela. Aquela que fica a duas ruas acima da minha. Pode aparecer a partir das 8. Não precisa levar nada de mais. Só você mesmo. Vê se não falta com essa. Você precisa relaxar. Vai te fazer bem. Até lá, amigão. Abraço.
  - Abraço... - O a ligação termina com o Gustavo pensando se foi uma boa ideia mesmo ter aceitado. "Por que não? Afinal, vai ter muitos amigos meus.... E não preciso me preocupar com a janta. O Bruno tava certo, vai ser bom pra mim".

  Enfim em casa.