sábado, 27 de abril de 2013

53 - Eu só queria ser um garoto normal

  Leila fica frente a frente com seu pai. Ela, com cara chorosa, olha com um olhar de raiva para o pai. Ele fica imóvel, afinal, ele chamou Renato em particular exatamente para que ela não soubesse sobre a conversa. "Não acredito que você fez isso com ele. Pai, a auto-estima dele já estava baixa, e você ainda faz isso? Sério, pai, muito infantil da sua parte". Sem reação alguma do pai, Leila vira as costas para ele e sai do apartamento chorando.
  "Meu pai é um idiota egoísta, mesquinho, imbecil, preconceituoso...". Leila sussurra para si mesma, chorando de cabeça baixa enquanto desce no elevador. A dois andares do térreo, ela enxuga as lágrimas no braço, respira fundo e levanta a cabeça.
  À esquerda do elevador está a portaria, à direita, há uma quadra poliesportiva.
   A chuva cai levemente, o som das gotas são doces calmantes, o cheiro da chuva é revigorante, porém, o momento amargo naquele local torna tudo tão frio e deprimente.
  De repente, Leila escuta o som de uma bola batendo sobre a água. "Quem estaria jogando bola nessa chuva?". Ela vai dar uma olhada e vê o seu amado, todo encharcado, jogando basquete, apenas arremessando uma bola velha que ele achou no canto da quadra.
  "Sabe, Esdras, eu nunca me importei com a opinião dos outros, mas... Sei lá... O que o pai dela falou penetrou fundo em mim. Acho que foi a única vez que eu realmente fiquei triste com o que disseram para mim".
  "Eu acho que você não pertence ao mundo dela. Aquele tipo de gente é muito esnobe para alguém do seu tipo". Esdras está ao lado com um guarda-chuva apenas sobre ele. "Você fez certo, saiu antes que algo pior acontecesse".
  Renato segura a bola, olha para ela pensando profundamente. "Acho que você está certo. Eu não pertenço a esse mundo. O meu mundo é solitário, apenas eu, Deus, a Leila, e você. Sem mais nem menos". Ele suspira fundo. "Eu só queria ser um garoto normal..."
  Leila está escorada na parede olhando, sem ação, Renato pensando com a bola na mão.

sábado, 20 de abril de 2013

52 - (in)feliz natal

  No quarto dela, Rodolfo e Júlia (nome dos primos) estão brincando sobre a cama de Leila. Ela chega e se junta a eles na brincadeira. Renato apenas aproveita observando, sentado na cama, os três brincarem. Ele sorri ao ver a inocência e energia das crianças.
  Após algumas horas, e alguns familiares a mais presentes, a enorme mesa posta e o cheiro da comida exalando no apartamento todo, Cristina grita o nome da filha, chamando-a para comer. "Vamos, Renato, a minha mãe está chamando" Ela vai logo atrás dos primos dela, apenas Renato, de cabeça meio baixa e pensativo, vai atrás dela.
  À mesa, todos organizadamente sentados, ainda não começam a comer, apenas esperando a oração que a mãe de Leila fará agradecendo a família, a união e o alimento. Renato ora junto, mas continua pensativo. O que estaria passando na cabeça dele? Seria aquela mesma cena dos pais dela olhando torto para ele com um sorriso amarelo? Isso continua martelando em sua cabeça. Enquanto isso, Leila vira-se para sua mãe. "Por acaso o Renato poderia dormir aqui hoje? Afinal, vai ficar muito tarde para ele voltar para casa, e não há ninguém na casa dele".
   Cristina olha pensativa, e diz que irá perguntar ao pai dela. "Tudo bem" disse a filha. Logo em seguida, Leila diz ao Renato sobre a proposta que fez à mãe.
  "Não sei, amor... Eu acho que os seus pais não gostaram de mim".
  "Por que diz isso?"
  "Desde o momento que eu cheguei, os seus pais olharam tortos para mim com um sorriso amarelo, o seu pai nem sequer esticou a mão para me cumprimentar, sem contar que eles ficam sussurrando entre si toda ora olhando para mim. Sei lá, acho que não foi uma surpresa muito agradável a minha presença".
  Ela apenas olha. Pode ser coisa da cabeça dele, pode não ser.
  Alguns minutos depois, após a ceia de natal, todos se juntaram na sala para a cerimônia de troca de presentes. Leila se levanta e vai falar com a mãe que a tinha chamado. "Filha, olha, eu e seu pai conversamos e, se é o que você quer, tudo bem de ele dormir aqui. Deixamos até ficar na sua cama, desde que não façam nada. Estaremos de olho". Leila abre um sorriso de orelha a orelha, um sorriso maravilhoso.
  Ela pula nos braços da mãe em um abraço apertado de agradecimento. "Obrigada mãe! Muito obrigada! Estou super feliz! Obrigada mesmo, mãe!".
  Ela sai da cozinha e vai à sala a procura de Renato. "Espera só até eu contar para ele! E pensar que ele achava que os meus pais não tinham gostado dele! Ele vai ficar surpreso".
  Na porta do quarto da Leila, Renato fora chamado pelo Fábio para uma conversa em particular.
  "Como a Leila já deve ter te contado, você foi convidado por ela para dormir aqui, mas precisa da nossa permissão. Nós deixamos. Mas olha aqui, garoto, não é por que nós sentimos pena de você e nem nada, mas por causa da felicidade da nossa filha. Eu dou liberdade para vocês, mas é só para vê-la feliz, não tem nada a ver com você".
  Renato ouviu tudo calado com a expressão séria. Sem sorrir, sem chorar, sem demonstrar emoção alguma, apenas escutando as amargas palavras de um homem mau por natureza. Ao fundo estava Leila, apenas vendo sem ser vista a conversa dos dois. Espantada, chocada com o que via. Não escutou, mas imaginou o que estava sendo dito. Renato apenas disse "Sei quando não sou bem-vindo", se virou e foi, passando pelas pessoas como se fossem árvores, apenas desviando, partindo. "Renato, espera" disse Leila, mas sem ser ouvida. Ele continuou andando como se nada tivera acontecido depois da tal conversa. Abriu a porta e desceu. Leila ficou imóvel frente à porta fechada. Espantada com o que vira. Uma lágrima escorreu de seu rosto, os lábios são mordidos, a dor que sentira agora está completamente exposto em seu rosto.

sábado, 13 de abril de 2013

51 - Coloquem mais um prato na mesa

  Mais tarde, próximo ao apartamento de Leila e sua família, o nosso casal chega todo arrumado. Ele vestindo uma camisa branca, calça social e All Star pretos. Ela, usando uma saia meio longa azul e uma blusa de manga curta beje. Lindos os dois. Na portaria, esperando o elevador chegar, ela arruma a gola dele. "Tem certeza que não tem problema? Sei lá, não acho que vai dar muito certo".
  "Chega de tolice, Re, meus pais te amam, acharam você uma gracinha. Por que teria algum problema? Você só está nervoso. Procure relaxar um pouco, tudo bem?".
  "Como quiser. Vamos, o elevador chegou". Eles entraram, ela apertou o botão do 12° andar e o abraçou.
  Renato fecha os olhos, esperando pelo pior desta noite. Ele respira fundo. Claramente tenso, não dá para esconder. Leila percebe, o olha, puxa-o pelo pescoço e o beija. "Não se preocupe, eu estarei contigo". De certa forma, isso o acalmou um pouco. O elevador chega, o coração palpita mais intensamente, o suor frio escorre pelas suas mãos, mãos seguradas pela Leila. Ela pega a chave da casa, abre a porta e, antes mesmo de entrar, toca a campainha, avisando a todos lá dentro de sua chegada. "Oi família!!!! Trouxe um presentinho aqui comigo, espero que não tenha nenhum problema".
  Os pais dela estão na sala, sentados juntos a dois homens e três mulheres. Arriscaria dizer que são duas tias, um tio, um avô e uma avó. Os pais, a princípio, sorriem. Mas, ao ver Renato, vem aquele sorriso amarelo. O casal se olha, e se faz de amigável, mas são péssimos atores. Está claro que a surpresa que a filha deles fez nesta noite não fora muito agradável para eles, mas eles parecem tentar disfarçar isso.
  A enorme árvore no canto da sacada está belamente enfeitada e iluminada, típica de uma noite de natal. E presentes e mais presentes sob ela. Caixas de todas as formas, de todos os tamanhos, de todas as cores. Pela quantidade, deve vir mais gente e algumas crianças também.
  Enquanto Renato está imóvel e tímido na frente da porta, Leila cumprimenta todos os seus parentes lá presentes. Conversa vai conversa vem, ela vai em direção ao Renato, puxa-o pelo braço e o apresenta para todos. "Gente, esse é o meu belo príncipe encantado. Renato. Ele estuda comigo". Ele, timidamente, acena para todos. Leila sussurra no ouvido dele apontando discretamente para cada parente. "Aquela ali é a minha tia Rute, meu tio John, minha outra tia Laura, meu avo Bernardo e a minha avó Nina. Elas acharam você um cara bonito. A primeira vista, gostaram de você. Procure relaxar, tudo bem?". Ele apenas faz um movimento afirmativo com a cabeça.
  Na cozinha, Fábio e Cristina estão conversando.
  "O que fazemos?" disse ele. "Ela nos pegou de surpresa! Não quero magoá-lo, mas acho que não foi uma boa ideia dela".
  "Sei o que está pensando. Mas não podemos fazer isso com ele. Vamos fingir que foi uma visita agradável. Aí ele sai feliz e pronto". Ele concordou e voltaram para a sala.
  Leila puxa Renato até os quartos para que ele conheça os primos dela. Apenas dois chegaram, mas virão mais. Renato continua sem graça, principalmente depois de ter reparado o olhar torto que recebeu dos pais de Leila. Aquela imagem não lhe saía da cabeça. Os dois se olhando, provavelmente pensando "o que esse garoto está fazendo aqui?", ou coisa pior. 

sábado, 6 de abril de 2013

50 - Com horário marcado

  É chegado o natal, a véspera de natal. dia 24 de dezembro, Leila está na casa de Renato logo de manhã, decidiram passar o dia assim, juntos.

  A tarde, enquanto almoçam, ela teve uma ideia. "Amor, estive pensando, você vai passar o natal sozinho, certo? Digo, o seu tio não virá?
  "Esse ano não. Complicações no trabalho. Ele vai passar o feriado lá na Alemanha. Não me importo, não será a primeira vez, infelizmente, acho que não será a última também. Estar hoje com você já é ótimo. Por que?"

  "Eu estava pensando agora... Não quer passar lá em casa? Você já vai viajar, poderia passar a noite lá. Acho que não terá problema nenhum. Eu durmo as vezes aqui contigo, não há porque os meus pais recusarem".
  "Nisso você tem razão, mas... sei lá... É uma festa com a sua família, eu serei meio que um intruso. Não?"
  "Você se preocupa demais" ela pega uma garfada de arroz com frango e leva até a boca dele. "Vamos para casa lá pelas 17h, tudo bem?"
  "A casa é sua, serei apenas um mero convidado. O lado bom disso que poderei conhecer toda a sua família". Ele ainda dá um sorriso. No final do almoço, depois de lavarem a louça suja e arrumarem a mesa, foram dormir juntos na cama. É, meus caros leitores, está realmente tudo perfeito na vida dos dois.
  No fim da tarde, faltando pouco mais de dez minutos para as 17h, Renato acorda com a Leila sobre o peito. No momento, não lhe veio à cabeça o compromisso, ele estava muito bem ali deitado com a sua amada. Fechou os olhos por um instante, e foi aí que lhe veio à mente. Ele tenta se levantar sem acordar Leila, mas é impossível, afinal, ela está sobre o peito dele. "Querida, levanta, são dez para as cinco. Não temos que ir?"
  Ela, meio sonolenta, ainda não distingue bem as palavras. "Eu quero ficar aqui contigo, deitado sobre o seu peito nu. Está perfeito".
  "Eu também queria, mas você não marcou com o seus pais? Eu não quero colocá-la em encrenca. Vamos. Ainda temos que tomar banho. Pode ir primeiro, eu vou arrumando as coisas aqui".
  "Seu chato" Ela diz com a cara emburrada, mas rindo. O beija e levanta. "Vê se não fica espionando" diz ela de dentro do banheiro, seguido de uma risada. Renato está de costas para a porta do banheiro, cuja está aberta, arrumando a cama. De repente, vem-lhe sobre a cabeça um sutiã. Ele não se vira, apenas para e olha para a parede. Vem um short nas costas e ele ri. No ombro lhe vem uma calcinha, ele apenas olha de canto de olho e ri, nada mais. Pega toda a roupa jogada e arruma, deixando sobre uma cadeira no canto do quarto. "Vou revidar. Imagina essa minha calça na sua cabeça!". Leila apenas ri enquanto toma banho.
  Alguns minutos depois, Leila sai com uma toalha sobre o corpo e outra enxugando o seu cabelo. Renato estava terminando de separar as roupas. "Divirta-se" disse ela, enquanto passava por trás dele, passando a mão nas costas do jovem. Ele apenas disse "Difícil. Mas, por você, vou tentar" e deu uma piscadinha.
  Ele começa a tirar o cinto, quando Leila, apenas de calcinha o abraça por trás colocando as mãos sobre o peito dele. "Imagina só a gente em um futuro não muito distante... casados... vai ser lindo. Você sabe que eu sonho com esse dia quase todos os dias, não sabe?"
  "Quase todos?"
  "É claro, as vezes eu penso no casamento, as vezes no pedido também".
  "Você sonha alto. Mas, sinceramente, eu já planejei isso. E não, não vou te dizer". Ele solta uma risada. Ela também ri, mas dá uma mordida de leve no ombro dele. Leila o abraça mais forte. "Eu te amo, meu príncipe"
  "Eu também te amo, minha princesa". Os dois estão sorrindo. "Agora eu vou tomar banho, se não vamos nos atrasar mais do que já estamos". Ele solta a calça e apenas se ouve o estalo do metal da fivela no chão.
  Leila dá um apertão na bunda de Renato e diz "Bobo".