Leila fica frente a frente com seu pai. Ela, com cara chorosa, olha com um olhar de raiva para o pai. Ele fica imóvel, afinal, ele chamou Renato em particular exatamente para que ela não soubesse sobre a conversa. "Não acredito que você fez isso com ele. Pai, a auto-estima dele já estava baixa, e você ainda faz isso? Sério, pai, muito infantil da sua parte". Sem reação alguma do pai, Leila vira as costas para ele e sai do apartamento chorando.
"Meu pai é um idiota egoísta, mesquinho, imbecil, preconceituoso...". Leila sussurra para si mesma, chorando de cabeça baixa enquanto desce no elevador. A dois andares do térreo, ela enxuga as lágrimas no braço, respira fundo e levanta a cabeça.
À esquerda do elevador está a portaria, à direita, há uma quadra poliesportiva.
A chuva cai levemente, o som das gotas são doces calmantes, o cheiro da chuva é revigorante, porém, o momento amargo naquele local torna tudo tão frio e deprimente.
De repente, Leila escuta o som de uma bola batendo sobre a água. "Quem estaria jogando bola nessa chuva?". Ela vai dar uma olhada e vê o seu amado, todo encharcado, jogando basquete, apenas arremessando uma bola velha que ele achou no canto da quadra.
"Sabe, Esdras, eu nunca me importei com a opinião dos outros, mas... Sei lá... O que o pai dela falou penetrou fundo em mim. Acho que foi a única vez que eu realmente fiquei triste com o que disseram para mim".
"Eu acho que você não pertence ao mundo dela. Aquele tipo de gente é muito esnobe para alguém do seu tipo". Esdras está ao lado com um guarda-chuva apenas sobre ele. "Você fez certo, saiu antes que algo pior acontecesse".
Renato segura a bola, olha para ela pensando profundamente. "Acho que você está certo. Eu não pertenço a esse mundo. O meu mundo é solitário, apenas eu, Deus, a Leila, e você. Sem mais nem menos". Ele suspira fundo. "Eu só queria ser um garoto normal..."
Leila está escorada na parede olhando, sem ação, Renato pensando com a bola na mão.