sábado, 29 de dezembro de 2012

36 - E a cada momento, mais comum

  Após o termino da aula, estão conversando do lado de fora de uma das sala um professor e um aluno. O professor é o João Macedo. O aluno, Renato.
  "Professor, como o senhor deve saber, eu não sou um cara muito... falante! E, por eu não ser muito sociável, não sei conversar direito, entende? É por isso que eu queria a sua ajuda. O que eu posso dizer para conhecer uma garota e, o mais importante, conquistá-la?"

  João fica confuso com o pedido do aluno. "Bem" ele começou. "Você poderia mostrar o seu interesse por ela. Faça perguntar pertinentes, não como um maníaco, mas como um amigo, o que eu já reparei que você já se tornou. Renato, eu te conheço muito bem, te acompanho a mais de 3 anos. Você é sobrinho do meu melhor amigo, então eu te conheço desde o dia que ele te adotou, claro que não oficialmente, mas isso mostra que eu o conheço muito bem. Meu conselho? Seja você mesmo. Não procure mudar por ninguém. Há um ditado muito bom que diz o seguinte: "Não procure pela pessoa certa, SEJA a pessoa certa". Sei que você é um garoto justo, educado, um cara que respeita as outras pessoas. Não mude, apenas tente ser um pouco mais sociável. Conheça pessoas, converse com elas". Poucos momentos de silêncio se passaram, apenas poucos segundos. "Esse é o conselho que eu tinha para dar. Espero ter ajudado".
  Renato nem piscava com as palavras de seu professor, tentando absorver cada letra daquele conselho dado tão gentilmente por ele. "Obrigado, professor, o senhor me ajudou muito e desculpa ter ocupado o seu horário de almoço, sei que tem que dar aula em outro colégio e eu aqui te segurando. Vá lá e boa aula para o senhor. E desculpa mais uma vez pelo seu atraso". João só sorriu. Tava na cara que não houve problema nenhum, afinal, para ele, é um prazer ajudar um aluno, seja com o que for.

  Ao fundo do corredor, escondida por detrás dos armários de ferro, há alguém a espreita, apenas observando os dois atentamente. Quando Renato começa a vir na sua direção, o tal vulto sai correndo pelos corredores. Renato apenas ouve os passos desesperados, mas não dá muita importância, afinal ele está em um colégio. Deve ser crianças correndo, pensa ele.
  No pátio, enquanto as crianças e adolescentes esperam pelos seus pais, há algumas rodinhas de amigos formadas ao redor das mesas e até no meio do pátio. São muitos grupinhos, grupos que olharam e olham até hoje com o canto dos olhos para Renato. Um olhar torto como se dissessem para ele não chegar perto, um olhar de repulsa, de desprezo. Porém, ele não procura muito até encontrar Leila em uma das rodinhas e vai até ela com um sorriso no rosto e ignorando por completo o desprezo alheio.
  "Olha lá, é o Renato!" disse, acenando para ele, Amanda, fazendo com que Leila, Júlia e Bruna se virassem também. "Você demorou um pouco. O que foi?" perguntou ela.
  "Ah!, não foi nada, só fui tirar umas dúvidas com o João Macedo, nada de mais" disse ele abrindo um singelo sorriso logo em seguida.
  A conversa continuou, Renato conversou, puxou assunto, riu, se divertiu... Mas o que ele não notou, foi que havia alguém com um olhar diferente para ele, um olhar penetrante, um olhar apaixonado para ele. Era Leila quem não parava de olhar admirada para ele. Sim, ela está apaixonada por ele. Ele também está por ela, mas um não sabe do sentimento do outro. Se ao menos ele parasse para olhar e reparar nos olhos de Leila, talvez ele tivesse a coragem de se declarar por ela também. Mas parece que isso será algo difícil de acontecer, afinal, pela primeira vez, alguém está realmente interessado nas suas palavras e na sua presença.
  Dez minutos depois, apenas Leila e Renato ficaram. Amanda, Bruna e Júlia foram todas embora. "Sobrou só a gente..." disse ele. Ambos tentam disfarçar os olhares, desviando para os lados. Na mente dele, as imagens daquela madrugada em que ela estava falando dele lhe vinham... Tudo que ele pensou na hora estava de volta.
  Um breve momento de silêncio, até que Renato vira-se para Leila, mas sem dizer uma sílaba sequer, porém, como se as almas dos dois estivessem ligadas, ela vira-se para ele ao mesmo tempo. Os olhares se encontraram, o momento se tornou mágico, o mundo deixou de existir, nada mais tinha importância, se não aquele momento. Renato olhou para aqueles olhos castanhos, olhos aqueles tão apaixonantes, tão profundos, o brilho daquele olhar fazia-o esquecer do mundo e ver apenas a alma nas profundezas daquele olhar. Uma alma que, quando era vista por Renato, o hipnotizava. Quando ele olhou bem fundo naqueles olhos, ele não viu a alma dela, mas se viu. Ou melhor, ele viu a alma dela e se enxergou nela.
  O coração acelerou, os olhos piscavam com maior frequência, o sorriso involuntário aparecia em sua face. A mão tremia e se fechava em leves tiques. A respiração, junto com o seu coração, acelerou. Ele se viu perdidamente apaixonado por ela.
  Porém, esse momento foi interrompido por uma buzina. Um carro estacionado bem em frente ao colégio fazia sinais sonoros. Era um homem com cabelos curtos e pouco grisalhos que chamava por Leila. Devia ser o pai. Ela, encabulada, disse que tinha que partir. Pediu desculpas e saiu em direção ao carro. Chegou lá, entrou e o homem, aparentemente, lhe vez uma pergunta. Leila saiu logo em seguida e, sem sair do lado do veículo, olhou para Renato que sorriu, mas percebeu que ela devia ter esquecido de algo. Olhou em sua volta e avistou a mochila dela a centímetros dele. Ele pegou a própria mochila e a dela e foi em direção dela, entregou-a e ela agradeceu, mas não saiu. Leila, vermelha, beijou-lhe a face, mas bem próximo a boca, entrou no carro e foi. Renato ficou imóvel e sem piscar.

sábado, 22 de dezembro de 2012

35 - Poucas palavras, mas já é o bastante

  Bruna. A garota que chamou Leila chama-se Bruna. Cabelos longos, negros, pouco enrolados, olhos castanhos e pele pouco morena. Linda, mas não tanto quanto Leila.
  Foram os três para o pátio e lá estavam mais duas garotas. Bruna, por algum motivo, sabia o nome de Renato. Deve ser por causa da chamada (ou por causa da Leila mesmo). Seria a Bruna que estaria conversando com Leila naquela madrugada? Bem, não dá para saber.
  Amanda, Júlia, esse é o Renato. Renato, a da direita é a Julia, a da esquerda é a Amanda. Meu nome é Bruna.
  Amanda. Loira, cabelos lisos pouco curtos, olhos castanhos também. Júlia já é um pouco diferente. O Cabelo longo e loiro e encaracolado possui uma mecha rosa. Os olhos dela são verdes, verdes escuros, porém bem marcantes.
  "Olá". Finalmente, parece milagre mas não é (pode até ser), mas Renato falou com alguém se não Esdras (e Leila). Ele está, finalmente, ficando sociável. Pode dar certo, como pode não dar. Só acompanhando para saber.
  Amanda á a primeira a puxar conversa com ele tentando quebras aquele clima de silêncio. "Então, Renato... Você é de onde?"
  "Sou daqui de São Paulo mesmo".
  "E já conheceu outras cidades, outros estados, outros países?". Dessa vez, a curiosa foi Júlia. Ela realmente parece interessada.
  "No máximo Águas de Lindoia e Santos. Um foi num natal com o meu tio o outro foi nas férias. E vocês, são de onde?"
  Amanda. "Daqui mesmo".
  Júlia. "Juiz de Fora, interior de Minas Gerais".
  Bruna. "Sou de Salvador, na Bahia"
  Júlia se interessa mais. "E que tipo de música você curte?"
  "Eu gosto mais de Rock, porém, não dispenso um bom MPB, sabe. Legião Urbana, Lenine, Ana Carolina, Cássia Eller, entre vários outros".
  E o recreio foi passando, chegou o horário das aulas, passaram-se elas até tocar o sinal final. A última aula era do João Macedo, então Renato chamou-o antes de ele ir embora enquanto todos os alunos se ausentavam da sala (e do colégio). "Tem um tempinho, professor?"

sábado, 15 de dezembro de 2012

34 - É preciso coragem para deixar de ser sozinho

  É chegado o dia seguinte, e Renato se levanta, porém, diferente. Diferente por dois motivos: Primeiro, ele está pensando em alguém, uma garota, em Leila. Segundo, ele acorda determinado em fazer algo diferente no dia ao invés das mesmices da rotina.
  É, meu caro leitor, leitor amigo, é agora que veremos se esta história toda será um lindo romance ou apenas mais uma tragédia. O que será não dá para saber, nem mesmo eu, narrador onisciente sei ao certo. Talvez eu não seja tão "sabe-tudo" quanto pensava ou deveria ser. Acho também que, mesmo se eu soubesse mesmo de tudo que irá acontecer eu não contaria, afinal, contar a surpresa antes da hora perde toda a graça e magia de tudo. Bem, vamos acompanha-lo e ver no que que dá. Ah!, só para lembrá-los, estou, neste momento, apenas narrando os fatos enquanto eles acontecem.
  Bem, chega de papo furado por que parece que o nosso "Romeu" já saiu de casa e já está no ônibus. Daqui uns minutinhos eu acho que ele chega no colégio para encontrar a sua tão desejada "Julieta".

  Ao chegar, Renato já se assenta no seu lugar costumeiro, porém, ao não avistar a mochila de Leila, guarda um lugar para ela. Ao chegar, Leila olha em direção ao Renato, que está em uma de suas "viagens" com o seu head-fone, e vê na frente dele uma mochila, a mochila cheia de patch de bandas, bótons e chaveiros. Era a mochila dele. Teria Renato guardado um lugar para ela? Teria ele, tão isolado, tão tímido, tão reguardado ter se preocupado em guardar um lugar para alguém ao seu lado? Era essa a única explicação que vinha na mente de Leila.
  Ela sorriu e sentou-se à frente de Renato.
  Quando o professor entrou na sala, como se fosse instinto do Renato, ele ergueu a cabeça tirando o head-fone da cabeça, mas ele tem uma surpresa ao fazer isso, o que o deixa sem reação: lá estava Leila. Não era um sonho, não podia ser um sonho. Ela reparou que ele se levantou e, com um singelo sorriso, desejou-lhe um bom dia. Ele sorri e responde desejando um bom dia a ela também.
  E é chegado o recreio e os dois ficaram sentados na sala conversando, até que uma das amigas de Leila a chama.
  "Vamos?" ela perguntou a ele.
  Gaguejando, Renato respondeu "Tu-tudo bem" e foram.

sábado, 8 de dezembro de 2012

33 - Bem me quer... Mal me quer...

  Já na escola, Leila e Renato se separaram após chegarem juntos. Ela por que encontrou as amigas, ele por que foi direto para sua rotina de chegar sem olhar para nada nem ninguém e ir logo sentando na sua carteira, fugindo da realidade até o início da aula.
  E o dia passou, Ela se sentou longe dele, nem ao menos se falaram mais neste dia. Retornando para casa, Renato só tinha Esdras como sua companhia. "Estou começando a achar que aquilo foi um sonho. Imagina, uma garota, uma mulher daquelas gostar de um esquisito como eu. Só em sonhos mesmo".
  Esdras respondeu com firmeza. "Por mim aquilo não foi sonho não. Pareceu tudo muito real para mim".
  "Mas você viu como ela agiu hoje o dia inteiro. Mal nos falamos na hora do café da manhã, ela nem se preocupou de sentar perto de mim. Não a culpo nem nada, muito menos estou reclamando. Ela faz o que bem entender, não tenho nada a ver".
  Esdras ficou em silêncio. Renato puxou fundo o ar e soltou-o em um suspiro mais profundo ainda. A expressão facial dele estava diferente do comum, estava mais pensativo, mais triste talvez. "Você ainda gosta dela, não é mesmo?"
  Renato deu de ombros. "Bem, não. Não só gosto dela. Eu... eu acho que a amo".
  "Acha? Como assim você 'acha' que está amando? Ou está ou não está, é fácil perceber a diferença um do outro".
  "Sei lá... Para começar, não paro de pensar nela, sempre que estou perto dela sinto uma palpitação aqui no meu peito. O coração acelera, o sorriso se fixa e não consigo tirar os olhos dela. Ah, como é linda. Ah como eu a desejo. Mas... por outro lado..."
  Esdras estranha a quietação de Renato. "...por outro lado, nós quase não conversamos um com o outro. Apenas ficamos, realmente perto um do outro conversando como amigos, ontem a tarde. SÓ, em mais nenhum momento. Não sei como se ama alguém em tão pouco tempo. Mesmo que haja destino e o meu seja estar junto com ela, as coisas não acontecem tão rápido assim". Ele suspirou mais uma vez enquanto Esdras apenas o encarava. "Não sei o que faço. Tentar me aproximar pode ser arriscado demais, afinal, eu sou dado como 'estranho' por muitos. Mas se eu não fizer algo, talvez ela pense que eu não queira nada". Esdras apenas o observou. "Dane-se, pensem o que quiser, não to nem aí".
  "Ao menos tomou uma decisão". Esdras diz com um sorriso.

sábado, 1 de dezembro de 2012

32 - A noite

  Algumas horas se passaram.
  Eram quase dez horas da noite quando Renato foi pegar uns lençóis e um travesseiro para ir dormir no sofá. "Mas já vai dormir?" Leila questionou.
  "O nosso ônibus vai passar bem cedo aqui na frente de casa, então eu aconselho você ir dormir também, se não não acordamos a tempo" Explicou.
  Renato foi até o banheiro, entregou para Leila uma escova de dentes nova e uma toalha e lhe disse que, se quisesse, poderia tomar banho. Ela agradeceu.


[...]


  Já passava da uma hora da manhã quando Renato levantou. Ele estava com sede, então foi para a cozinha pegar um copo d'água para ele. Na volta, ele percebe uma luminosidade vindo do quarto. Ele se aproxima lentamente. Era Leila. Ela estava com o computador dela, estava conversando com uma amiga.

  "Eu to te falando, ele é muito gentil. Sabe, acho que estou começando a gostar dele".
  "Diz para ele então".
  "Tá louca? É claro que não vou dizer nada. Vou deixar acontecer. Pode ser besteira minha, uma paixonite minha mesmo".

  "Eu quero conhecê-lo. Será que ele é tudo isso mesmo?".
  "Eu não mentiria para você, amiga, você sabe disso".
  "É claro que não, mas como você disse, pode ser uma paixonite mesmo".
  Renato estava apenas encostou as costas na parede e ficou só ouvindo, de modo que não era visto. Ele ficou surpreso, mas não disse nada, nem ao menos entrou no quarto, apenas fora deitar-se no sofá e dormir. Demorou para pegar no sono, mas quando adormeceu, o fez com um sorriso no rosto.

  Seis horas da manhã, o despertador de Renato toca, acordando tanto ele quanto Leila que adormecera apenas com uma camiseta dele e de calcinha, nada mais. Ele demorou um pouco para levantar, afinal, acordou pensando no que ouvira na madrugada. Será que era tudo real? Ou foi tudo mais um sonho? Pensou ele. Já Leila fora mais breve ao se levantar. Não percebeu como estava vestida, então apareceu na frente do Renato do jeito que dormira. "Bom dia" disse ela.
  Ele corou ao ver como ela estava. "A-Acho que... err... você está esquecendo algo". Ela não entendeu. Devia estar sonolenta ainda. Renato voltou a falar. "Suas calças".
  Ela deu um pulo, afinal, estava semi-nua na frente de um cara que acabara de conhecer. Leila foi correndo até o quarto. "Bom dia!" Renato gritou.
  Um minuto depois, ela volta, já de calça, para a sala. "Desculpa, nem me toquei de como estava vestida, ou melhor, como NÃO estava vestida". Os dois riram. Ela já deu um riso mais tímido, estava corada também.

  Eles tomaram café e saíram, foram para o colégio.