Do lado de fora, Renato e Leila observaram Esdras entrar no seleiro. De repente, um vento forte veio acompanhado de nuvens cinzas que cobriam o céu, e a porta do seleiro fechou bruscamente, fazendo um estrondo. "Rápido, suba na árvore" disse Renato. Leila não questionou e subiu com uma certa agilidade.
"Mas e Esdras? Vai ficar tudo bem?". "Não se preocupe, eu o conheço desde quando eu me conheço por gente, ele sabe o que faz". E nisso, eles esperaram.
Minutos se passaram, minutos tensos, até que leila decide quebrar o silêncio e, em meio ao assovio do vento e tanta timidez, pergunta: "Re-Renato... Me conte sobre você?". "O que quer saber?" "Tudo! Como conheceu o Esdras? Qual a história da sua vida? Quero saber mais sobre você".
Renato, que está apoiado com as costas na árvore, apenas olha para cima, vê Leila nos galhos olhando-o com aqueles olhos castanhos brilhantes. "Bem, ele sempre esteve presente na minha vida", Renato olhou o horizonte e, com os olhos brilhando, continuou a contar. "Quando criança eu pensava que ele era meu pai, mas ele me contou que meus pais morreram num incêndio e que eu estava em casa. Uma viga caiu em cima deles e morreram na hora. Esdras diz que entrou só pra me salvar, pois sabia que meus pais não poderiam fazer nada. Ele disse que, quando olhei pra ele, comecei a rir. Sempre que estive com ele me sentia protegido, me sentia completo". E uma gota caiu na cabeça de Renato, ele deu de ombros e ignorou. Mal ele sabia que era Leila que estava emocionada com a história. "E cresci. Ele me ensinou a tocar instrumentos, a desenhar, ele foi um verdadeiro tutor. Nunca fui para a escola, ele que me ensinou tudo: Física, matemática, biologia, química, geografia... tudo mesmo".
"E como você, com essas circunstâncias, sabia que duendes existem?" disse Leila enxugando os olhos com um dos braços. Renato olhou para ela, deu uma risadinha e abaixou a cabeça olhando para o horizonte novamente. "Pelo simples fato de que olhei a verdade nos seus olhos. Esdras me ensinou até isso. Eu conheço a linguagem corporal, consigo ver a verdade só de olhar nos olhos de alguém. Por isso eu nunca tive vontade de estar do lado de ninguém, sempre via maldade, falsidade, malícia nas pessoas. O incrível é que eu não vejo nada de ruim em você. Você é diferente das outras pessoas".
Leila ri timidamente. "Esdras deve estar certo, deve ser obra do destino". Renato concorda.
"E você, como foi que conseguiu se envolver nisso tudo?"
Leila abaixou a cabeça e, com uma expressão de mágoa, começa a contar. "Bem, eu fugi de casa porque meu pai ele ficava bêbado a todo momento, e já que somos só nós dois, ele desconta toda a raiva dele em mim. Chegou uma ora que eu cansei e fugi, fugi para bem longe...". "Onde seu pai mora?" perguntou Renato. "Morávamos em São Paulo, aí eu fugi para cá. Peguei um ônibus e simplesmente, fui para o lugar mais longe que o meu dinheiro podia pagar. Mal sabia eu que ele é um bruxo ou alguma coisa do tipo. Aí ele mandou aquelas coisas atrás de mim. E corrento pela avenida, vi um portão aberto e entrei. Bati na porta desesperadamente e você a abriu. Bem, o resto você já sabe".
Renato levantou a cabeça e seus olhares se encontraram. "Obrigada" disse Leila com uma voz suave enquanto lágrimas escorriam em seu rosto.
De repente, uma luz iluminou o rosto da moça, e Renato olha para o seleiro e se levanta abrindo o sorriso. "Olha! Esdras saiu!". E os dois correm em direção dele.