O café que Renato e Esdras pediram já estava no fim quando se levantaram. Eles foram em direção ao balcão, onde um jovem, o mesmo que havia os atendido quando entraram, estava falando ao telefone. "Eu sei amor... Acalme-se, eu vou chegar a tempo, não se preocupe. Quando o meu chefe me liberar eu vou até aí, essa chuva não irá me impedir. ... Tudo bem. Meu bem, eu tenho que desligar, tenho que atender uns clientes. ... Tá. ... Sem problemas. ... Eu levo sim, viu. Te amo" e desligou o telefone. "Olá! Aceitam mais alguma coisa?"
"Queremos duas: A conta e uma troca de favores". Esdras e o jovem olharam confusos para Renato. Esdras moveu os lábios, torcendo para que Renato entendesse o recado, era algo como "Não o envolva" ou algo do tipo. "Precisamos de algumas roupas. Eu pago em dobro" e Renato mostrou um bolo de dinheiro, devia ter umas trezentas Libras Esterlinas.
"Venham comigo" moço do balcão levou-os para um quartinho nos fundos.
O rapaz fica olhando enquanto os dois ficam fuçando nas caixas. Ele pergunta se estão fugindo de alguém. Renato confirma. "É da polícia?". "Não". Respostas rápidas.
"Essa aqui é perfeita. Encontrou alguma coisa, Esdras?"
"Quase. Já já vou encontras. ... Achei!!! Pegou o guarda chuva?"
"Claro, não posso esquecer. Muito obrigado..."
"Jhonny, meu nome é Jhonny".
"Jhonny. Muito obrigado mesmo. Boa sorte com a moça!"
"Obrigado".
No Brasil, Leila e uma das empregadas de seu pai estão conversando.
"Sim, Maria, duendes. Por favor, acredite em mim, a senhora sabe que eu jamais mentiria pra você."
Maria se levantou e abraçou a menina. "É claro que eu confio em você. Acalme-se, irei te proteger a todo custo. Não se preocupe. Estará segura aqui no seu quarto, haja o que houver".
Minutos depois de "conversinhas de mulher", Maria, decidida, levanta-se e abre o guarda -roupa. "Venha, deixe-me escolher uma roupa para você. Iremos sair".
"E se meu pai descobrir?"
"Não terá problema nenhum, ele falou pra mim enquanto você estava dormindo que, se você saísse, era para eu te acompanhar e trazê-la antes que anoiteça. Então venha. Tire essa roupa, tome um banho que eu vou escolher a melhor roupa pra você e iremos.
Leila aceitou a proposta. Entrou no banheiro, fechou a porta e começou a se despir.
A sensação da água caindo em sua cabeça a acalmava, é como se todas as preocupações fossem levadas pela água e desciam pelo ralo. De cabeça baixa, ela começou a pensar, refletir. As gotas caiam em sua cabeça, a espuma ainda cobria os braços, o peito e a barriga. Com os olhos abertos, ela imaginava, via Renato. Estaria apaixonada? Por que ele não se ausentava de seus pensamentos, sua memória? Ela agitou a cabeça pros lados (como um cão ao se secar) e deixou a água escorrer pelo seu corpo todo, tirando o resto de espuma que ainda sobrara.
Ao sair, estava enrolada em uma toalha, estava coberta do peito à metade da coxa. Seus longos cabelos ainda pingavam. "O que acha?" perguntou Maria mostrando uma blusa branca larga, uma calça jeans preta. Na blusa, uma imagem era notada, parecia um desenho feito a lápis. Era O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci.
"Perfeito! Onde vamos?"
"Em um lugar que eu sei que você precisa ir. Num lugar que você adora".
Leila colocou a lingerie, vestiu a calça, a blusa, as meias. Mas ao calçar o All Star, aquele mesmo que ela estava quando conheceu Renato, as imagens deve vieram em sua cabeça novamente. A mente dela foi tomada pela presença dele, tanto que ela conseguia ouvi-lo chamar seu nome, sentir seu toque, seu cheiro. Mesmo a milhares de quilômetros, eles estavam lado a lado, ao menos é o que ela sentia.
"Leila? Leila? Está tudo bem?"
Ela voltou à realidade. "Está sim! Não é nada" encachou o tênis num movimento único e se levantou puxando Maria.