sábado, 25 de agosto de 2012

18 - Gotas rejuvenescedoras

  O café que Renato e Esdras pediram já estava no fim quando se levantaram. Eles foram em direção ao balcão, onde um jovem, o mesmo que havia os atendido quando entraram, estava falando ao telefone. "Eu sei amor... Acalme-se, eu vou chegar a tempo, não se preocupe. Quando o meu chefe me liberar eu vou até aí, essa chuva não irá me impedir. ... Tudo bem. Meu bem, eu tenho que desligar, tenho que atender uns clientes. ... Tá. ... Sem problemas. ... Eu levo sim, viu. Te amo" e desligou o telefone. "Olá! Aceitam mais alguma coisa?"
  "Queremos duas: A conta e uma troca de favores". Esdras e o jovem olharam confusos para Renato. Esdras moveu os lábios, torcendo para que Renato entendesse o recado, era algo como "Não o envolva" ou algo do tipo. "Precisamos de algumas roupas. Eu pago em dobro" e Renato mostrou um bolo de dinheiro, devia ter umas trezentas Libras Esterlinas.
  "Venham comigo"  moço do balcão levou-os para um quartinho nos fundos.
  O rapaz fica olhando enquanto os dois ficam fuçando nas caixas. Ele pergunta se estão fugindo de alguém. Renato confirma. "É da polícia?". "Não". Respostas rápidas.
  "Essa aqui é perfeita. Encontrou alguma coisa, Esdras?"
  "Quase. Já já vou encontras. ... Achei!!! Pegou o guarda chuva?"
  "Claro, não posso esquecer. Muito obrigado..."
  "Jhonny, meu nome é Jhonny".
  "Jhonny. Muito obrigado mesmo. Boa sorte com a moça!"
  "Obrigado".

  No Brasil, Leila e uma das empregadas de seu pai estão conversando.
  "Sim, Maria, duendes. Por favor, acredite em mim, a senhora sabe que eu jamais mentiria pra você."
  Maria se levantou e abraçou a menina. "É claro que eu confio em você. Acalme-se, irei te proteger a todo custo. Não se preocupe. Estará segura aqui no seu quarto, haja o que houver".
  Minutos depois de "conversinhas de mulher", Maria, decidida, levanta-se e abre o guarda -roupa. "Venha, deixe-me escolher uma roupa para você. Iremos sair".
  "E se meu pai descobrir?"
  "Não terá problema nenhum, ele falou pra mim enquanto você estava dormindo que, se você saísse, era para eu te acompanhar e trazê-la antes que anoiteça. Então venha. Tire essa roupa, tome um banho que eu vou escolher a melhor roupa pra você e iremos.
  Leila aceitou a proposta. Entrou no banheiro, fechou a porta e começou a se despir.
  A sensação da água caindo em sua cabeça a acalmava, é como se todas as preocupações fossem levadas pela água e desciam pelo ralo. De cabeça baixa, ela começou a pensar, refletir. As gotas caiam em sua cabeça, a espuma ainda cobria os braços, o peito e a barriga. Com os olhos abertos, ela imaginava, via Renato. Estaria apaixonada? Por que ele não se ausentava de seus pensamentos, sua memória? Ela agitou a cabeça pros lados (como um cão ao se secar) e deixou a água escorrer pelo seu corpo todo, tirando o resto de espuma que ainda sobrara.
  Ao sair, estava enrolada em uma toalha, estava coberta do peito à metade da coxa. Seus longos cabelos ainda pingavam. "O que acha?" perguntou Maria mostrando uma blusa branca larga, uma calça jeans preta. Na blusa, uma imagem era notada, parecia um desenho feito a lápis. Era O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci.
  "Perfeito! Onde vamos?"
  "Em um lugar que eu sei que você precisa ir. Num lugar que você adora".
  Leila colocou a lingerie, vestiu a calça, a blusa, as meias. Mas ao calçar o All Star, aquele mesmo que ela estava quando conheceu Renato, as imagens deve vieram em sua cabeça novamente. A mente dela foi tomada pela presença dele, tanto que ela conseguia ouvi-lo chamar seu nome, sentir seu toque, seu cheiro. Mesmo a milhares de quilômetros, eles estavam lado a lado, ao menos é o que ela sentia.
  "Leila? Leila? Está tudo bem?"
  Ela voltou à realidade. "Está sim! Não é nada" encachou o tênis num movimento único e se levantou puxando Maria.

sábado, 18 de agosto de 2012

17 - Ventos líricos

  Em Londres, algo muito estranho acontece: um eclipse sobrenatural, diferente de todos os outros. Minutos angustiantes se passam para Renato e Esdras. Todos olham sem piscar, não sabendo se ficam com medo ou admirados com o ocorrido. De repente, uma chuva começa a cair levemente, molhando a calçada, as pessoas. A água se infiltra por entre os paralelepípedos da rua. Uma chuva fina, porém pesada e negra. Ao sentir as totas tocarem o seu corpo, Esdras grita e puxa Renato como num reflexo. "Vamos!" e os dois começam a correr em direção ao grande relógio londrino.
  "O que é isso?" perguntou Renato.
  "Ela é conhecida como Moon tear. É uma chuva negra que só ocorre quando um eclipse é criado".
  "Mas eu já presenciei um eclipse e isso não aconteceu. Como pode...?"
  "Eu disse criado. O que você viu aconteceu. A diferença é que, quando criam, a natureza inteira se muda, os mares, tudo perde seu padrão, e apenas as fadas conseguem trazer tudo à normalidade. A questão é que essa Moon Tear é perigosa para certas pessoas, pois é como se fosse o Tato da lua. Se eu estiver certo, os venatores que fizeram isso. Se for, temos que nos preparar para o pior. Enfim, fique alerta".
  Eles correram por cinco quarteirões até encontrarem uma padaria aberta para se esconderem. "Estaremos a salvo por ora". E numa mesa os dois sentaram. Ambos pediram um café. "O que pode acontecer?" perguntou Renato. Esdras juntou as mãos, colocou-as sobre a mesa redonda, se encurvou em direção ao jovem e o olhou fixamente. "Digamos que você morre. Da lua virá uma espécie de raio negro, que te queima com o menor dos toques. Mas eles não querem te matar... ainda. Você é muito importante para eles, só não sei para o que, mas é".
  "E por que então eles criaram esse eclipse?"
  "Para nos atrasar. Eles sabem que só as irmãs podem fazer o destino mudar, até mesmo da Leila. Eles sabem onde ela está, então fizeram isso para que não conseguamos encontrá-las a tempo. Só não sei como chegaremos ao Big-Ben sem sermos desintegrados".
  O café chegou. O cheiro daquele líquido negro subiu pelas narinas. O doce aroma relaxou-os por um breve momento. Os olhos de Renato se fecharam, um sorriso tímido se abriu em seu rosto. "Já sei, Esdras, vamos nos disfarçar. Se ele quer apenas nos atrasar ou nos matar se for preciso, vamos nos disfarçar. Ele não pode nos matar se não souberem que somos nós, certo?". O mesmo sorriso invadiu a face de Esdras.

sábado, 11 de agosto de 2012

16 - Depoimento


  Leila está no seu quarto, sentada na sua cama junta com uma das empregadas de seu pai. Ele saiu faz poucos segundos e em tão pouco tempo a expressão facial de Leila mudou tão drasticamente.
  "Não quer me contar alguma coisa?" perguntou a mulher.
  Leila abaixa a cabeça, fecha bem forte os olhos e começa a chorar. A mulher a abraça para tentar consola-la. Com a voz falhando por causa do choro, Leila tenta pronunciar as primeiras palavras. "Não sei se sabe, mas ele é um bruxo, um feiticeiro. No dia que eu fugi, eu tinha escutado que ele queria me usar de sacrifício para alguma coisa, eu não sei, não consigo me lembrar direito o que é, só sei que o que só me restava era fugir. Quando acordei aqui, ele me veio com uma conversa fiada que estava sendo irônico ou algo assim. Não acreditei muito, a mentira estava bem à mostra na cara dele".
   "Nossa!" a mulher ficou espantada com a notícia, principalmente pelo fato de que seu patrão é um bruxo. "E o que aconteceu nesse tempo todo? Você ficou uns três meses fora!".
   Ela deu de ombros, como se não importasse. Leila se ajustou na cama, pôs as mãos sobre os joelhos e respirou fundo. "Bem, a princípio, corri. Peguei a minha mochila do colégio, que por acaso estava com uma blusinha minha e a minha carteira, e fui até a estação de ônibus mais próxima. Lá, escolhi a que tinha a partida mais próxima, queria ir embora o mais rápido possível. Acabei indo para uma cidadezinha chamada Águas de Lindoia e fiquei por lá esse tempo todo. Fiquei trabalhando num hotel lá o resto do tempo. Num dia, um homem bem pequeno, um anão mesmo se hospedou lá. Quando ele me viu, me cumprimentou e puxou conversa comigo. Ao desenrolar do assunto, ele perguntou se eu era filha do Doutor Ricardo. De acordo com ele, eu era muito igual a ele. Nisso, ele perguntou se eu não queria sair pra conversar, mas eu tinha serviços a fazer, então recusei. Nisso, todo dia ele insistia, até que, em um dado momento, ele me chamou no quarto dele. Ele enlouqueceu, perdeu a paciência. Aí ele abriu a mala dele. Tinha um tipo de porta lá. Dela, saíram muitos bichinhos estranhos, eram duendes. Me perseguiram por muito tempo".
   "Espera, você disse 'duendes'?

sábado, 4 de agosto de 2012

15 - Tudo parece tão... SUSPEITO

  Esdras e Renato estão na prefeitura, no gabinete do prefeito em frente a um estranho elevador. Eles entram no elevador que começa a descer.

  Minutos passam e o elevador continua descendo, Até que, finalmente, chegam num lugar sem nada. Está tudo preto, mas uma ótima luminosidade. O local aparenta não ter chão, não ter teto e nem mesmo ter paredes, apenas via-se muitas portas, formando um contraste perfeito de "preto-e-branco".
  "Vamos" gritou Esdras que já estava a metros do elevador (também, com passos largos, afastar-se tanto em tão pouco tempo é comum). E Renato deu um salto ao ser chamado. Ele fica admirado, olha ao redor, vê nas portas brancas pequenas placas com nomes de cidades.
  Enquanto isso, Esdras vai à frente, murmurando letras enquanto observa as portas. "J... K... L.. AQUI!! Chegamos. Venha, não podemos perder tempo". E foi logo abrindo a porta, liberando uma forte luz cegante.
  "Onde estamos?" Perguntou Renato coçando os olhos.
  "Londres. Temos que ir para o Big-Ben".
  À caminho, em pleno "sol de meio-dia", Renato nota algo estranho: Está tudo ficando escuro, uma sombra toma conta do lugar, os londrinos pararam para ver o que acontecia. Muitos não notaram, mas o sol estava sendo ofuscado, ou melhor, perdia gradualmente o seu brilho. De repente, o sol, o céu, tudo ficou preto, porém, via-se as pessoas, mesmo sendo tudo preto, bordas em branco (olhos, cabelo, o contorno de seus corpos também). E Londres ficou nessa escuridão por um bom tempo. Horas. Cerca de três horas e meia depois, um feixe branco veio direto do sol em direção à Terra
  Renato nem se movia, não conseguia fazer nada. Mal sabia ele que o alvo era ele.

  No Brasil, um pai e sua filha se abraçam, derramando lágrimas. "Eu tenho que ir. Tenho uns negócios para tratar. À noite eu volto, tudo bem?". A garota afirma com a cabeça. logo após a saída dele, uma mulher de mais idade entra no quarto da bela moça. "Está tudo bem?" perguntou ela preocupada, entrando de fininho. A moça afirma com a cabeça. "A senhorita é muito querida aqui, viu. Você que me perdoe, mas eu nunca fui muito com a cara do Doutro Ricardo. Pra mim, ele tá sempre escondendo alguma coisa. E tem gente ainda que diz que a mentira tem uma face: a dele. Me desculpe te falar isso, mas parece que estava acreditando em cada palavra dele, mesmo sendo o contrário do que acreditava. Quer me contar alguma coisa?"