Esdras leva Renato até o metrô, paga as passagens e vão em direção à prefeitura. "A viajem não vai demorar. Fique atento o tempo todo. Ainda está com a espada que te dei?". "Sim" respondeu o garoto. "Ótimo! Não deixe à mostra".
A viajem foi tranquila, sem nenhum problema. Ao chegarem ao local do desembarque, vão à prefeitura, mas pouco antes de entrarem, Renato parou logo à frente da porta, segurando Esdras pelo braço. "Não vão achar estranho um garoto entrar, não dizer nada e ficar entrando em tudo quanto é porta?". Esdras se vira e encara Renato. Abre um sorriso e logo diz "Não se preocupe, eles irão me ver, só por um estante. E outra, eu tenho contatos aqui, não se preocupe".
"Seriam espiões ou algo do tipo?"
"Eer... di-digamos que sim" especula Esdras gaguejando enquanto vão entrando. Lá dentro, seguem direto ao gabinete do prefeito. Ninguém os adivertiu. Entram no gabinete e Esdras pede para Renato fechar logo a porta. ele o faz. "Vamos, Renato, me ajude aqui a empurrar a mesa" e o garoto foi rapidamente. Ao retirarem o móvel, via-se nitidamente um retângulo grande, onde caberia uma pessoa, talvez até duas. Esdras apoia a sua mão estendida sobre o quadrado e uma luz rosada sai por entre a mão e o piso. logo depois, o retângulo se ergue.
"I... Isso é um..." gagueja Renato surpreso.
"Sim, é um elevador. Vamos, entre logo e sem mais perguntas" e ele o fez.
Não muito longe dali, no mesmo prédio onde Leila foi levada, na moradia da cobertura, ela está deitada em uma cama. Aos poucos vai abrindo os olhos e se erguendo. "O que... Onde estou?" sussurrou ela. "Não se preocupe, está segura, está em sua casa" disse o pai entrando no quarto. Leila fica com medo e não consegue se mover graças ao sentimento. "Relaxe, não lhe farei mal algum. Sou seu pai, não sou?".
O queixo dela treme, os olhos estão arregalados e as mãos apertam com força o lençol. O homem chega mais perto e senta ao seu lado na cama, abaixa a cabeça e junta as mãos. "Eu te amo, filha. O que você ouviu, não é o que você está pensando. Haviam homens que queriam que eu fizesse aquilo com você, eu só estava sendo irônico. Eu neguei de fazer aquilo. Desde que sua mãe morreu, eu tenho medo". As mãos de Leila se relaxam e ela olha para baixo pensativa ao lembrar da mãe. "Eu tenho medo de te perder. Você é muito parecida com ela, principalmente esses dias. Seu cabelo loiro escuro e cacheado, seus olhos castanhos, sua determinação... sua coragem" a voz dele fica mais suave "você é muito parecida em todos os sentidos com a sua mãe. Como você deve saber, eu sou um bruxo, e sua mãe também sabia. Sabia até antes mesmo de nos casarmos. A diferença é que eu contei pra ela, e você descobriu de outro jeito".
"Por que você escondeu isso de mim, pai?" a voz sai suave e baixa.
O homem vira o rosto e olha nos olhos da moça. "Por que eu queria te proteger. A partir do momento que você soube, o perigo te ronda. Não tem mais volta, mas o único jeito de você se proteger é estar em casa".
"Então não foi você que mandou aquelas... aquelas... coisas?".
"É claro que não. Elas te querem como refém para que eu faça coisas contra a minha vontade. Por favor, acredite em mim" e uma lágrima escorre do rosto dele.