sábado, 28 de julho de 2012

14 - É chegada a hora

  Esdras leva Renato até o metrô, paga as passagens e vão em direção à prefeitura. "A viajem não vai demorar. Fique atento o tempo todo. Ainda está com a espada que te dei?". "Sim" respondeu o garoto. "Ótimo! Não deixe à mostra".
  A viajem foi tranquila, sem nenhum problema. Ao chegarem ao local do desembarque, vão à prefeitura, mas pouco antes de entrarem, Renato parou logo à frente da porta, segurando Esdras pelo braço. "Não vão achar estranho um garoto entrar, não dizer nada e ficar entrando em tudo quanto é porta?". Esdras se vira e encara Renato. Abre um sorriso e logo diz "Não se preocupe, eles irão me ver, só por um estante. E outra, eu tenho contatos aqui, não se preocupe".
  "Seriam espiões ou algo do tipo?"
  "Eer... di-digamos que sim" especula Esdras gaguejando enquanto vão entrando. Lá dentro, seguem direto ao gabinete do prefeito. Ninguém os adivertiu. Entram no gabinete e Esdras pede para Renato fechar logo a porta. ele o faz. "Vamos, Renato, me ajude aqui a empurrar a mesa" e o garoto foi rapidamente. Ao retirarem o móvel, via-se nitidamente um retângulo grande, onde caberia uma pessoa, talvez até duas. Esdras apoia a sua mão estendida sobre o quadrado e uma luz rosada sai por entre a mão e o piso. logo depois, o retângulo se ergue.
  "I... Isso é um..." gagueja Renato surpreso.
  "Sim, é um elevador. Vamos, entre logo e sem mais perguntas" e ele o fez.

  Não muito longe dali, no mesmo prédio onde Leila foi levada, na moradia da cobertura, ela está deitada em uma cama. Aos poucos vai abrindo os olhos e se erguendo. "O que... Onde estou?" sussurrou ela. "Não se preocupe, está segura, está em sua casa" disse o pai entrando no quarto. Leila fica com medo e não consegue se mover graças ao sentimento. "Relaxe, não lhe farei mal algum. Sou seu pai, não sou?".
  O queixo dela treme, os olhos estão arregalados e as mãos apertam com força o lençol. O homem chega mais perto e senta ao seu lado na cama, abaixa a cabeça e junta as mãos. "Eu te amo, filha. O que você ouviu, não é o que você está pensando. Haviam homens que queriam que eu fizesse aquilo com você, eu só estava sendo irônico. Eu neguei de fazer aquilo. Desde que sua mãe morreu, eu tenho medo". As mãos de Leila se relaxam e ela olha para baixo pensativa ao lembrar da mãe. "Eu tenho medo de te perder. Você é muito parecida com ela, principalmente esses dias. Seu cabelo loiro escuro e cacheado, seus olhos castanhos, sua determinação... sua coragem" a voz dele fica mais suave "você é muito parecida em todos os sentidos com a sua mãe. Como você deve saber, eu sou um bruxo, e sua mãe também sabia. Sabia até antes mesmo de nos casarmos. A diferença é que eu contei pra ela, e você descobriu de outro jeito".
  "Por que você escondeu isso de mim, pai?" a voz sai suave e baixa.
  O homem vira o rosto e olha nos olhos da moça. "Por que eu queria te proteger. A partir do momento que você soube, o perigo te ronda. Não tem mais volta, mas o único jeito de você se proteger é estar em casa".
  "Então não foi você que mandou aquelas... aquelas... coisas?".
  "É claro que não. Elas te querem como refém para que eu faça coisas contra a minha vontade. Por favor, acredite em mim" e uma lágrima escorre do rosto dele.

sábado, 21 de julho de 2012

13 - De volta pra casa, filha


  A alguns quilômetros do local do sequestro, um homem de terno olha pela imensa janela de seu escritório, admira a cidade. Está chovendo, mas chovendo fraco, o bastante para deixar uma fina camada de água escorrendo no vidro.
  "Senhor..." alguém chama-o enquanto abre a porta, o homem apenas vira um pouco o rosto, olhando de lado para a porta. "Tem três moços querendo vê-lo, dizem que é muito importante".
  "Tudo bem, obrigado Arthur, diga a eles que logo descerei".
  "Sim senhor" e sai.

  Alguns minutos depois, o Homem bem vestido chega no saguão e encontra os três homens. "Conseguiram?". Um deles dá um passo à frente e responde positivamente, e chama para irem para fora, onde o carro estaria estacionado. Ao chegar lá, abre a porta traseira e lá estava uma moça vendada, amordaçada e com as mãos amarradas, mas desacordada. "Tirem tudo!" ordenou o granfino, e assim foi feito por um dos três cavalheiros. Sem venda, mordaça ou corda alguma, nota-se perfeitamente a identidade da refém. É Leila.
  "Se...Senhor" gagueja um dos moços ", viu que não sofreu nenhum arranhão? Tomamos o maior cuidado com ela".
  "Bom trabalho. Foi muito bom pra vocês que a minha filha tenha chegado ilesa em casa. Caso contrário, vocês simplesmente não viveriam para verem o fim desse dia" e dá uma piscadinha com um dos olhos, sorri e pega a filha em seus braços.
  Ao entrar no saguão do prédio carregando a garota, todos os trabalhadores param e ficam curiosos. O pai de Leila chama o elevador, vira para todos, que assustam e voltam a trabalhar normalmente, e diz em alto e bom tom: "Ela está bem, apenas voltou muito cansada da viajem que não resistiu e dormiu. Amanhã mesmo ela estará normal. Obrigado pela preocupação de todos". Um tipo de sino toca e a porta do elevador se abrem. Ele aperta o botão C (de cobertura) e sobe com Leila em seus braços.


  Na periferia da cidade, Renato com raiva "escorrendo de seu rosto", corre por entre as pessoas em direção à prefeitura, mas nem sinal de Esdras. Ao chegar num cruzamento, nem espera o sinal fechar para os carros, vai correndo por entre eles, pulando como um macaco para desviar dos carros que tentam frear mas não conseguem parar antes de chegar no Renato. Lágrimas voam de seu rosto enquanto pula, corre e desvia dos obstáculos.
  Ao virar numa esquina, parado nela está Esdras, que o segura e grita com ele. "Calma! Assim você acabará morrendo e não poderá fazer nada pra salvá-la. Vamos conseguir, basta paciência". Renato abaixa a cabeça e morde um dos lábios. Esdras, com um movimento de mão ergue a cabeça dele. "Venha, vamos pegar o metrô, é mais rápido e seguro!". Renato faz um sinal de positivo com a cabeça e desce as escadas.

sábado, 14 de julho de 2012

12 - E chegam a cidade da garoa


  Um pouco mais de um mês se passou, seis semanas para ser mais exato, desde aquele incidente do seleiro e o trio chega, finalmente na cidade de São Paulo. Foi uma viagem longa, cansativa, mas ao menos chegaram inteiros. Chegaram por volta das duas horas da tarte, procuraram um lugar para poderem almoçar.
  Logo de cara eles foram para o primeiro restaurante que encontraram, é um do tipo self-service. O lugar não era muito chique, estava caindo aos pedaços para falar a verdade, mas ao menos podiam comer. Eles sentaram numa mesa próxima a porta sem nenhum motivo especial, apenas por conforto mesmo (era a única mesa que estava limpa). E foram se servir. Leila foi direto à salada, enquanto os dois foram comer carne.
  Enquanto isso, numa mesa próxima, quatro homens conversam, um deles com um capuz cobrindo-lhe o rosto, Um deles possuía uma cicatriz logo abaixo do olho esquerdo. "Então é só isso que você quer que nós façamos?" perguntou um dos homens. "Isso! Se ocorrer tudo como o planejado, cada um leva uma bolada de dinheiro" disse o encapuçado. "De quanto exatamente falamos?" disse outro. Como resposta, o homem que se esconde levanta uma maleta brilhante e abre em cima da mesa, mostrando vários bolos bem organizados de dinheiro. "15 mil reais para cada". "Isso só por causa de uma garota? Tudo bem então" disse o cara com a cicatriz ", aceitamos!". "Perf..." o homem do capuz, levantando a cabeça, mostra o rosto e assim, vê logo de cara Leila. Ele arregala os olhos e fica com a boca aberta.
  "Não pode ser" ele sussurrou pra si próprio. Rapidamente, ele volta com a sua expressão de sério. "Cavalheiros, tenho uma ótima notícias para vocês. O alvo está mais próximo do que imaginam" e aponta com o queixo para Leila. "Levem-na ao meu apartamento o mais rápido possível e não deixem rastros" e sai rapidamente.
  Os três homens se entre olharam, um deles deu de ombro e se levantaram em direção à Leila que está sozinha no caixa pra pagar. "Olá gata. O que uma bela moça como você faz num lugar como esses?" disse um dos homens. "Olha, se querem me assaltar, sinto lhes dizer que não tenho nada". Não não..." se apressou dizendo outro homem, "nós só queremos te proteger, lugares como esse tem muita gente má". "E quem me garante que vocês não são tais pessoas más?" retrucou a moça. O terceiro chegou com um copo cheio "Pessoas más te pagariam um almoço?" disse colocando uma vinte reais no caixa. "Vamos, só estamos tentando ser legais com você. Nos dê uma chance de provar isso, por favor."
  Ela pega o copo e dá um gole. Agradece...
  Espera! Tudo está escuro? Não estou enxergando nada! O que aconteceu? Que vozes estranhas são essas? Tenho que tentar chamar Renato e Esdras. ... Espera... a minha voz... não sai... por que?
  Na mesa próxima a porta, alguns minutos depois do incidente da garota, Esdras e Renato sentam com o prato cheio para almoçar. Eles se perguntam de Leila, mas é claro que nenhum dos dois imaginam o que aconteceu. Hipóteses como de ela estar no banheiro, por exemplo, surgem, mas não há respostas certas.
  Os dois terminam de almoçar e nada da Leila aparecer. "Estou ficando preocupado com ela. Será que aconteceu algo?" Indagou Renato. "Não sei. Vou dar uma olhada pelo restaurante, e você poderia dar uma olhada lá fora". "Certo!". E foram.

  Renato está andando na calçada barrenta na frente, procurando por Leila e por pistas. Esdras, alguns minutos depois aparece. "Nenhum sinal dela. E você?". "Nada também" Disse Renato com um joelho no chão olhando para baixo. "Espera! Acho que achei alguma coisa". Ele pegou uma fita roxa do chão. "Isso não é da Leila? Ela ganhou no aniversário de 15 anos da melhor amiga ano passado" disse ele.
  "Como sabe?"
  "Está escrito. Aqui: Leila Cotto, 15 anos.  De sua melhor amiga para sempre, Raf... Está rasgado aqui o outro nome. Suponho que seja Rafaela, mas não dá pra saber".
  "Renato, eu sei o que você deve estar sentindo e o que você deve estar querendo, mas temos que ir para a prefeitura, temos que encontras as três irmas, ela saberá como tirar vocês dessa encrenca". Ele se levanta.
  Uma lágrima escorre do rosto de Renato, sua mão aperta forte a fita, seus lábios são pressionados um contra o outro, e sussurra algo. "Eu vou te salvar Leila, custe o que custar"

sábado, 7 de julho de 2012

11 - Destino


  Enquanto Esdras está saindo do seleiro, o casal de jovens vem em sua direção com sorrisos em seus rostos. Esdras está com o braço direito melecado por uma gosma esverdeada.
  "O que aconteceu aí dentro?" perguntou Renato, esticando o braço para pegar na meleca grudada em seu amigo.
  Rapidamente Esdras o advertiu."PARE! Não toque nisso. Ao menor contato, sua vida começará a fugir do seu corpo. Vocês dois, nem pensem em tocar nisso". "Mas como você pode tocar?" perguntou a garota. "Esqueceu que eu não sou humano? Quando um humano toca essa coisa, é como se sua alma fosse repelida do corpo. Eu já vi acontecer na minha frente, é horrível"
  Leila olha para dentro do seleiro e vê um homem gordo caído, envolto por aquele líquido. Ela leva sua mão à boca, está claramente espantada. "Foi com ele que aconteceu?" ela perguntou. "Não, essa gosma verde é o sangue desse cara. Ele é um Venator. Venator significa caçador. Eles são seres que são contratados para qualquer missão do tipo de assassinato, caça de pessoas ou de seres mágicos, coisas do tipo. São somente mercenários, quase prostitutos da morte. Quando entrei, haviam cinco, um deles eu matei. Eles possuem um tipo de codinome, pode se dizer que cada um é um desejo humano. Esse chama-se Fartura. O líder desse grupo atende pelo nome de Riqueza. Ele possui dois braços-direito: Poder e Força. E, antes que eu me esqueça, ainda tem mais um, chama-se Sabedoria. Temo que este seja o mais perigoso".
  Renato sente algo tocar de leve seu ombro, uma gota, talvez. Ele leva a mão e sente algo pegajoso e olha para cima, curioso. "Quem é ele?" diz, apontando para cima. "Uma vítima dos venatores. Não sei o nome dele, só sei que é um duende, e essa "gosma" transparente no seu ombro é o sangue dele. Pensei que eles vivessem apenas na irlanda. O que ele estaria fazendo aqui no Brasil?".
  Leila começa a tremer e a suar frio. O medo está fora de controle dentro dela. Isso está ficando muito assustador pra mim". "Não deixarei que toquem em você. Isso é uma promessa" diz Renato enquanto abraça-a fortemente.
  Estras tira de suas costas uma espada com a bainha e entrega ao jovem. "Toma! Se quer cumprir mesmo essa promessa, vai precisar. Agora, apressem-se porque temos que ir até a capital. Precisamos pegar uma condução até a Inglaterra".
  Ela fica curiosa. "Não não, Leila, não é estranho não. No mundo mágico, todas as prefeituras das capitais possuem um portal para o submundo. Ao atravessar, chega-se numa sala grande, onde as portas de todas as capitais do mundo se encontram. Assim, eu posso ir de São Paulo à Londres em um "passe de mágica" digamos".
  "Melhor a gente ir logo então, esse lugar me dá arrepios" diz a jovem puxando os dois pelo braço.