sexta-feira, 25 de abril de 2014

Momentos tristes sem ela - Parte Cinco

    Bem, hoje serei breve. Não estou de bom humor e não vou te contar o porquê. Vamos acabar logo com isso.
  Ficamos noivos por uns 4 meses, até nos casarmos. Um dia antes do casamento foi estressante. Arrumando os últimos detalhes, brigamos por coisa tola. Acredita que foi por causa da cor dos guardanapos? Eu queria vermelho e ela branco. Depois de 3 horas de puro estresse para arrumar os últimos detalhes e deixar tudo perfeito, ela desmaiou. Foi lá, bem no meio do altar que ela caiu. Corri no instante que ela tocou  chão. Minutos de agonia se passaram. Ela não reagia a nenhuma ação. Tentamos jogar água em seu rosto e até bater. Nada. Mal percebo a sua respiração. O tempo praticamente parou para mim. Cheguei a pensar, por mais improvável que seja, no pior. Chamaram a ambulância, mas até agora nada. Quanto tempo se passou? 30? 40? 50 minutos? Olhei no relógio e foram apenas 5 minutos.
  Vinte minutos depois, a ambulância chegou. Atenderam ela lá mesmo. Quase que eu morro do coração com aquela cena. Suei frio e fiquei por um bom tempo tremendo. Ela não precisou ser levada ao hospital, mas os socorristas me falaram para deixá-la em casa descansando. Ela tinha que ficar em repouso se quisesse casar no outro dia.
  Dito e feito, mesmo contra a vontade dela, a levei para casa e coloquei ela em repouso. Consegui convencê-la de não se preocupar com o casamento que eu iria cuidar de tudo. De cada detalhe. Ela sabia que não poderia continuar lá. Então concordou.
  Voltei para a igreja. Estava quase tudo pronto. Só faltava colocar as flores e pronto. Estava tudo perfeito. Nada poderia estragar o meu momento... O nosso momento... Ao menos, era o que eu pensava.

[fico em silêncio por um tempo]

  Volte semana que vem. [Levanto e não olho para trás]

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Momentos tristes sem ela - Parte Quatro

  Boa noite. Hoje eu não estou de bom humor. Acho que estou começando a enlouquecer aqui. Esses animais estão sem controle. Um dia eu ainda arranco a cabeça de alguém. Decidiram fazer bagunça hoje. Houve uma briga feia hoje que quase sobrou para mim. Perdi o meu almoço por causa de um vagabundo que caiu em cima na minha bandeja. Bem, chega do meu dia. Não estou aqui para me divertir. Tirando os livros que nos oferecem, esse é o único momento de lazer que tenho. O resto é tortura. É desumano. Bem, onde estava?

  Ah! sim.

  Passamos a ser um casal normal depois de um tempo. Nos aproximamos em alguns dias, tivemos uma certa intimidade, uma liberdade que jamais tivemos um com o outro. Passamos a ter uma vida de casal. Estava tudo indo bem entre nós. Ela passou a ser a minha secretária.
  Vivíamos felizes. Saíamos para jantar, ir ao cinema, teatro, passeávamos no parque. Éramos um casal feliz.
  Um dia, então, decidi mudar o rumo de tudo. Aquele 15 de novembro de 2007 marcou a minha vida para sempre. Fomos para o parque. O que mais gostávamos de ir. Sentamo em um dos bancos para olhar os patos no lago. A copa das árvores e o por do sol refletindo na calma água deixava o ambiente mais lindo do que estava. Era o momento perfeito. O coração estava a mil. Antes eu achava que sabia a resposta, mas poucos momentos antes a certeza caíra por terra. Eu tremia, a minha boca estava seca e todas as palavras que eu havia preparado sumiram da minha mente. Eu estava sozinho com a surpresa do momento.
  Até que, por entre incertezas e inseguranças, me ajoelhei ao seu lado e fiz o pedido. Estava tão nervoso que, sinceramente, não lembro do que disse. A única coisa que me lembro era do seu rosto ao sol rindo um riso bobo. Algumas lágrimas contornava seu sorriso, até que ela dissesse "Sim, eu quero me casar com você". Naquele momento eu tinha certeza de que eu era o homem mais feliz do mundo.
  Coloquei o anel em seu dedo, levantei e beijei-a.
  Até chegarmos em casa, ela ficava admirando o anel, até que, pouco antes de chegarmos, a alegria de seu rosto dava lugar à tristeza. Ela havia lembrado de seu pai. Quem iria levá-la ao altar se não seu pai. Abaixou a cabeça e deixou as lágrimas caírem.
  -O que foi? - Perguntei.
  -Nada - Disse ela enquanto enxuga suas lágrimas -, apenas lembrei do meu pai. Sinto falta dele. Estava pensando em quem, se não ele, poderia me levar ao altar. O momento mais feliz da minha vida e não terei ele por perto.
  Abracei-a. -Entendo. Mais saiba de uma coisa, não importa onde ou quando, ele sempre estará por perto. Confie em mim, ele estará presente.
  Ela sorriu e me abraçou. Disse apenas uma coisa: "Obrigada"

[Apenas levanto e saio para a minha cela]

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Momentos tristes sem ela - Parte Três

  Oh! Você voltou. Sinceramente, estou surpreso pela sua volta. Pelo jeito, está gostando da minha vida. A sua vida aí fora deve estar chata mesmo. Bem, já que está aqui, sente-se confortavelmente que irei continuar.

  Depois de alguns meses, ela já era de casa. Estava feliz lá. E quanto mais o tempo passava, mais eu me apaixonava pela garota de cabelos cacheados. Ela dava uma sensação de alívio em casa, e de vazio na sua ausência. Com o tempo, ela conseguiu um emprego de secretária. Trabalhava numa escola do bairro. Ia a pé mesmo, afinal, ela gostava muito de andar. Em 20 minutos estava em seu destino. Saia as 7 horas da manhã e chegava por volta das 16. Ela gostava de lá. Eu trabalhava quase em casa. O meu escritório era no prédio vizinho ao meu. Gostava, pois da janela eu via Jade chegar do trabalho todo dia entre uma consulta e outra. Não era esse o motivo por eu trabalhar lá, mas passou a ser. Por mais estressante que possa estar sendo o dia, ele é aliviado pela sua imagem adentrando a porta da frente.
  A vida foi muito boa comigo. Foi. Apesar de tudo o que me veio depois, o destino sempre me presenteou com momentos maravilhosos. Cheguei do trabalho num certo dia e ela havia preparado um bolo para mim. Aprendeu com uma mulher, a dona Vera, que era da equipe de limpeza lá do colégio. Um bolo de chocolate com morangos. Uma delícia. Lembro-me do gosto até hoje. Ela fez com tanto cuidado e carinho para que ele ficasse, além de gostoso, bonito. E como ficou. Se me lembro bem, eu devo ter comido uns 3 ou 4 pedaços. Nem jantei naquela noite. Sentei na minha poltrona antes de ir me deitar e ela decidiu me fazer companhia. Sentou no braço da poltrona e ficou mexendo em meus cabelos. De olhos fechados e relaxado, queria conversar com ela sobre algo que já afligia o meu coração.
  - Sabe, Jade, você já está morando há um tempo aqui, mas eu gostaria de saber uma coisa de você. - Ela continuava passando a mão nos meus cabelos - O que você acha de mim? Digo, de maneira geral.
  - Que pergunta... Bem, eu gosto de você, se é o que quer saber. Você é um homem dedicado, quieto e visionário. Sabe o que quer e faz o que for preciso para alcançar. É muito educado e cuida de mim.
  - Eu estive pensando. Pode ser loucura minha, e acho que é, mas você se casaria comigo?
  - Isso é um pedido?
  - Receio que não. Não agora. É só por... Curiosidade, digamos assim. Sabe, eu vivi por muito tempo sozinho mas, depois que você entrou na minha vida, eu não sei o que poderia fazer se um dia fosse embora. Eu só queria ter uma certeza de que você não vai embora.
  Jade se levantou e agachou na minha frente. Olhou bem nos meus olhos, com as mãos em meus joelhos, e disse que eu não precisava me preocupar, pois ela não tinha para onde ir, afinal, lá era o lar dela. Era lá que ela se sentia bem, que era feliz. Eu sorri e dormi lá mesmo.

  Acho que eu devo voltar. Nos vemos semana que vem.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Momentos tristes sem ela - Parte Dois

  Bem vindo de volta ao meu humilde castelo. Curioso para saber mais sobre a minha desgraça? Espero que se divirta. Eu não tenho mais motivos para tal.
  Bem, onde é que eu estava? Ah sim, no banheiro.
  Ao sair vestida com as roupas que lhe dei, veio ao meu encontro. Estava linda. Os cabelos crespos e negros se transformaram em belos cachos castanhos. Mesmo assim, o que me fascinava ainda eram os seus olhos hipnotizantes. Até hoje, depois de tudo, se eu olhasse mais uma vez para aqueles olhos, eu me apaixonaria tal como na primeira vez que eu os vi. Mas continuemos a cronologia do meu desastre.
  Decidi conversar com a moça. Saber seu nome, de onde veio, sua idade... Queria realmente conhecê-la completamente. Ficou muda por uns momentos ao perguntar seu nome. Devia estar envergonhada. Não era pra menos, estava na casa de um estranho que fazia perguntas pessoais. Qualquer um teria uma reação igual. Enfim ela quebrou o silêncio. Gaguejando, falou-me seu nome. "J-Jade". Lindo nome, não?
  Conseguimos, depois de algum tempo ter alguma conversa. Ela estava sem teto, sem família, sem ninguém. Apenas ela e a roupa que lhe cobria. Vivia ela e o pai. Depois de um grave acidente onde ele perdeu uma perna, forçando-o a se aposentar, viviam os dois com um salário mínimo. Mesmo tentando, por dois meses ela não conseguia emprego. Sempre tinha alguém melhor para ocupar a vaga. Certo dia, voltando para casa depois de um dia frustrante em busca do seu ganha-pão, começa a chover. Cada minuto que passa, mais forte ficava a chuva. Ao chegar no bairro, uma surpresa: Um apagão. Não se via um palmo à sua frente. Até que, após algum tempo, ela percebeu o que realmente havia ocorrido. Um desmoronamento de terra havia colocado casas, famílias inteiras abaixo da terra. Homens, mulheres, crianças, velhos, não importa o que sejam, estavam sendo torturados por uma montanha de terra e água sobre eles.
  Num reflexo, correu para o lugar onde seria a sua casa. Jade estava chorando e gritando o nome do pai. Com as suas próprias mãos começou a jogar terra pra cima num movimento desesperados de salvar o seu pai soterrado. Suas lágrimas se confundem com os pingos de chuva, o sangue em seus dedos devido às suas unhas quebradas desaparecem na mesma terra que as quebraram. Sua boca já não sai mais som. As forças para gritar se esgotaram, suas lágrimas secaram, até que ficou imóvel, ajoelhada sobre o monte de terra formada pelo desmoronamento.
  Pela manhã, com a ajuda dos bombeiros, encontraram vários corpos. Amigos, vizinhos, crianças que antes brincavam de bola na rua estavam estirados em fileiras como porcos recém abatidos. Mas nenhum sinal de seu pai. Algumas horas se passaram, até que encontrassem um corpo. Ninguém o reconhecia. A face fora desfigurada pelo teto que desabara em cheio nele. Mas ela o reconheceu. Era o seu pai. Reconheceu pela perna que faltava. Não percebi se, naquele momento, ela teve paz por ter encontrado o seu pai ou rancor por saber que estava morto. Ódio e tristeza tomaram conta dela, até que decidiu enterrá-lo ali mesmo, afinal, lá era a sua casa. Depois do velório, foi direto para aquela praça, onde, 3 dias depois, eu a encontraria.

  Agora chega. Já contei demais. Vou voltar à minha cela e você para a sua [que você chama de casa]. Semana que vem eu continuo. Agora eu tenho que ir. Sou um cara "muito ocupado".