"Leila" disse uma voz, sussurrando por detrás de Renato. Seus olhos verdes demonstram claramente a surpresa, enquanto a sua boca, aos poucos, vai demonstrando traços de alegria por estar, ao menos, ouvindo novamente aquela voz angelical.
'Leila... Um nome simples, porém maravilhoso. Ao menos sei que está bem, ou melhor, viva'. Pensou ele após a surpresa de ter ouvido a voz dela novamente.
"Renato é um nome bonito, seus pais escolheram bem, combina com você. Como eu nunca te vi antes?"
"Eu não saio muito. Sem contar que eu não conheço ninguém. Enfim, o que aconteceu lá fora?".
A cabeça de Leila se abaixa. "Você pode dizer que sou louca, que estou inventando história... não precisa nem acreditar, mas [ela engole seco antes de dizer] eram duendes". "Eu acredito". Leila não entende. Nem mesmo ela acreditou quando os viu. Como um cara, isolado de tudo e de todos, conhece acidentalmente uma mulher que chega e diz que foi atacada por duendes e acredita no mesmo instante? Isso é inexplicável.
De repente, ouve-se pancadas na porta. "Vamos!" disse Renato "Temos que correr antes que eles consigam entrar. Rápido, pela janela" E assim os dois foram. Correram em direção à janela, saltaram-na e começaram a correr pela rua deserta. Os passos desajeitados da moça tentavam entrar em sintonia após o choque com as criaturinhas.
Leila estava até preparada para tal atividade, usava um short, uma blusinha sem mangas e um tênis all-star. Renato não, seu coturno e sobretudo o atrapalhavam nas passadas, até que, num breve momento, ele, desajeitadamente, retira o sobretudo escuro de seus ombros, enrola e o carrega nos braços. E segurando-a pela mão, leva-a para um lugar distante.
"Será que os despistamos?" disse ela. "Não sei, melhor não ficar tão feliz pelo o que aparenta ser. Qualquer brecha é perigoso". O casal passava por uma ruela escura que mais parecia um beco. Uma caixa de papelão se meche, um saco de lixo cai, esparramando os dejetos fétidos, os bueiros saem um vapor esbranquiçado (de certo modo estranho). O cheiro de esgoto toma conta do ambiente. Um gato preto sai de repente de uma janela e para na frente dos dois. Ambos param assustados. Como num reflexo, o tal felino avança em Leila que solta um grito de medo agudo ensurdecedor, mas Renato consegue puxá-la antes que ela seja tocada. O gato prepara mais um bote, mas dessa vez Renato também estava preparado. Quando se deu o momento da ação, ele pegou seu sobretudo, enrolou o felino e jogou longe o bastante para que abra uma oportunidade para uma fuga.
"Vamos!" Gritou ele, e num puxão levou junto Leila para longe o mais rápido possível.
"Primeiro os duendes, agora isso? Não é o meu dia de sorte mesmo"
Uns dez a quinze quarteirões em direção à periferia da cidade, já em uma área campada, Renato, ofegante e ainda segurando a mão de Leila olha em volta... olha para os olhos castanhos da bela moça... "Eu acho que... já estamos longe o bastante". A voz dele já falha, mas consegue se expressar.
Surpresa, aponta ara o braço de Renato. "Seu braço está sangrando". "Isso não é nada, deve ter sido quando peguei aquele gato. O sobretudo deve ter rasgado. Droga, era o único que eu tinha"
"Não é perigoso pegar uma infecção? Acho melhor cuidar logo disso" E assim, Renato rasgou uma das mangas de sua camiseta para cobrir o ferimento.
Mais a frente, logo debaixo de uma árvore grande, um homem sentado, de cabeça baixa, chama os jovens. "Vocês demoraram".
"Quem é você?" Perguntou Renato ao velho.
"Não me reconhece?".
"Com quem está falando?" Disse Leila com um olhar curioso para Renato. "Não há ninguém aí. Você deve estar imaginando coisas. Deve ser falta de oxigenação do cérebro por ter corrido tanto. Vamos, eu ouvi barulho de água, vamos lá nos refrescar, você está precisando".
Renato é levado para fora da presença do velho. Enquanto é afastado, o jovem não desvia e nem pisca para o estranho nem um segundo, e olha com uma cara pensativa de 'quem é você' para aquele que está sentado na árvore. E é puxado pelo braço que Leila o leva para um curso d'água para que possam se refrescar.