sábado, 26 de janeiro de 2013

40 - Oh, Cupido, por que faz isso comigo?

  Olá, meu bom e velho leitor amigo, como tem passado?

  Lembra-se do nosso último encontro? Foi meio constrangedor para mim o fato de perder nossos protagonistas tão queridos, mas acabei encontrando-os em um café na esquina conversando. Não aconteceu muita coisa desde aquele momento, eles apenas conversaram. Bem, voltemos para o nosso trama.
  Após dois meses de amizade dos dois, Renato já pode-se dar como um adolescente comum. Amigos, amigas, alguém para amar. Sonhos, desejos, expectativas, decepções, muitas dúvidas e nenhuma certeza. Acredite se quiser, Renato virou um garoto comum. Nesses dois meses, ele ficava cada vez mais perto dela, ia para a casa dela, ela ia na dele, eles saíam, iam à praça, ao shopping, ao teatro, ao cinema, mas nada de um relacionamento sério (ao menos, nada oficial).
  Hoje eles vão ao teatro, mas Renato pensa em fazer algo diferente. Parece que ele criou coragem de pedi-la em namoro. A peça é as 18 horas, mas logo após que acorda já está com um frio na barriga. Não consegue comer, não consegue pensar. Aliás, a única coisa que consegue pensar é nela. Nela e no que ele irá falar.
  10 horas da manhã. Renato está em frente ao espelho, só de cueca e meia, ensaiando o que irá falar. "Leila, tem uma coisa que eu quero te falar já faz um tempo" Ele não para, não consegue parar de esfregar as mãos uma na outra. "Não, não" Respira fundo. "Leila, não sei se percebeu, mas... Não, isso vai soar como se eu estivesse fugindo. Esdras, você não quer me ajudar?"
  "Como eu faria isso?"
  "Sei lá! Me ajuda. O que você falaria? O que faria? Sei lá... Fala alguma coisa".
  "Deixe-me pensar... Bem, primeiramente, poderia levar uma flor para ela. Já na hora de falar, poderia ser depois da peça, entrega a flor antes, fala o que você quer depois, e quando você for falar, é só dizer o que o seu coração quer"
  "Ele está é gritando..." sussurra Renato.
  "O que disse?"
  "Nada. Continue".
  "Enfim... Eu te vi ensaiando na frente do espelho... Eu acho que não falou nada de errado. É o que sente? É a verdade? Diga. Seja sincero. Diga o que tem de ser dito. Abra o seu coração com ela, mas não fale muito, apenas o bastante e deixe-a pensar, digerir tudo o que você disse. Está entendendo o que eu estou falando?"
  "A-acho que sim..." Ele senta-se na beira da cama, apoia os cotovelos na coxa e reflete olhando para o chão.
  Ele deixa escapar um riso, um riso tímido, um riso leve e quase imperceptível. "Sabe... o amor é algo estranho. Ele te deixa sem palavras, te faz suar, te faz agir como um idiota. O amor faz o mundo ficar mais belo, do mesmo jeito que parece que, quando se está só, não há vida, ao mesmo tempo que a vida esteja inundando o seu mundo. É tudo e é nada. É o sentimento mais estranho, mas também um dos mais sinceros que há. O mais lindo. Ele desperta o melhor que há em cada ser humano. Mas a melhor parte, é que, por mais belas e sinceras que sejam as palavras, é impossível descrever o sentimento. Nem o poema mais belo que há consegue descreve-lo, não chega nem perto, nem na metade.."
  Esdras permanece calado.
  "Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer; É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?" Renato levanta a cabeça. "Não é isso o que Luis de Camões escreveu? Bem, estava certo, mas não disse nada ainda comparado com o que eu sinto, comparado com o que realmente é. O que eu sinto é muito mais do que isso, algo que não pode se descrever com simples palavras, versos, refrões, canções. O que eu sinto, é AMOR".

sábado, 19 de janeiro de 2013

39 - De um sonho para um amor

  Aqueles sonhos não foram comuns, isso levou os dois a uma longa conversa, assunto para um dia, uma semana, duas, três... Ao se encontrarem todos os dias, lembravam, apenas ao ver o rosto do outro, daquele momento, daquele sonho vivido. Foi com o passar do tempo que eles foram se aproximando cada vez mais, criando intimidade, aproveitando cada segundo com o outro...
  Bem, leitor, você já deve estar imaginando que rumo estamos indo. Até parece que entramos naquele rumo clichê de todas as histórias de amor. Eles se conhecem, começam a se gostar, conseguem ficar juntos e vivem felizes para esse. Bem, pode parecer loucura o que estou dizendo, mas... Isso aqui é vida real, não nenhum conto de fadas, então pode parar de ficar sonhando com finais felizes. Quer saber, esquece, pode sonhar sim, afinal, nada está decidido ainda. Como eu disse, é vida real, então tudo pode acontecer. Pode ser que eles fiquem juntos, se casem e vivem felizes para sempre? Sim. Do mesmo jeito que o contrário pode acontecer também com a mesma facilidade.
  Posso estar enganado, mas... Você quer que eles fiquem juntos, não quer? Seja sincero, você vai ficar contente e pensar "Ah! Mais uma história de amor que deu certo! Tomara que a minha vida termine assim também: ao lado da pessoa amada". Estou errado? Bem, é possível, não sou Deus para ser onisciente.
  Bem, vamos rever o que acontece na vida real: Mágoa, desinteresse, pecados, distrações, raiva, nervosismo, felicidade, angústia, desejo, amor... Tudo pode e vai acontecer. Tudo mesmo. Mas o final, meus amigos, o final nem mesmo eu sei. O narrador de uma história não sabe. Sim, aconteceu isso. Vamos viver então.

[...]

  Sumiram. Não estão mais aqui. Alguém viu eles? Droga, me distraí um minutinho e os perdi de vista. O-olha, vou procurá-los aqui, e quando encontrá-los, te aviso. Pode ser?
  Tudo bem então. Pode deixar que eu chamo. Chamo mesmo.
  Bem, até logo.

  (O que será que eles estão fazendo? Não podem estar longe. Foi rapidinho que eu fui falar com os leitores e eles PUF! Sumiram. Droga! Da próxima vez, vou pedir para alguém ficar de olho neles. Ou talvez eu possa chamá-los para falar também. Será que posso? Ah!, não estou nem aí. Vou fazer isso mesmo. Assim eles não somem mais. Agora, onde eles se meteram? ...)

sábado, 12 de janeiro de 2013

38 - Dois sonhos

  Renato se levantou ofegante, pálido e suando frio. Era apenas um sonho. Ele fechou os olhos e suspirou, dando graças a Deus por tudo aquilo não ter passado de um sonho.
  Mas não era um sonho comum. Neste sonho, ele sentira os pés tocarem a água, sentiu as fadas o puxarem para o lago, sentiu o toque de Leila, sentiu o abraço dos seus dorsos nus, sentiu o perfume das flores, o perfume dela. Sentiu também o vazio não só o externo, mas interno naquele momento, como se até a alma tivesse o abandonado. Sentiu as lágrimas escorrerem pelo seu rosto, sentiu a vibração de sua garganta enquanto gritava. Ele realmente viveu o sonho.
  Segunda-feira. Renato chega no colégio, como de costume, senta-se e espera a aula começar. Leila chega estranha. Não fala com ninguém, o olhar está vazio. Ele vai em direção dela. "Leila?"
  "Ãn? Ah, Renato, desculpa, eu to assim por causa de um sonho que eu tive no fim de semana. Foi muito estranho. Eu estava na floresta, sozinha, encontrei um lago estranho com fadas que me fizeram andar sobre a água e... te encontrar! Eu te abracei, fechei os olhos e, quando abri, tudo tinha sumido. Não tinha nada. Me sentia vazia também, como se até mesmo EU tinha me abandonado. E o estranho é que eu sinto somo se eu tivesse vivido tudo aquilo, por que eu senti os toques, os cheiros... tudo. Desculpe, mas aquilo me abalou um pouco..."
  Renato ficou surpreso por causa que ambos tiveram exatamente o mesmo sonho e exatamente do mesmo jeito. "Isso sim é muito estranho" sussurrou Renato.
  "O que disse?"
  Ele não ouviu, estava longe demais com os seus pensamentos. 'Seria isso algum sinal, alguma mensagem para nós? Duvido. Só se for uma mensagem de Deus para nós dois, mas eu não acho que seria isso seja verdade, afinal, eu já sonhava com ela antes de conhece-la, e quando estamos perto um do outro, sinto meu coração pulsar mais forte. Coincidência? Difícil também, mas parece ser o mais provável'.
  "Renato?"
  "O que? Ah, Leila, desculpe, é que eu tava pensando aqui e me esqueci do mundo. As vezes eu faço isso".
  "Estava pensando no que?"
  'Será que eu falo? Deixaria ela preocupada ou não? Bem não dá para saber. Serei franco com ela'. "É que eu tive exatamente o mesmo sonho que você".
  Ela ficou surpresa, mas, ao mesmo tempo, maravilhada. Na cabeça dela, eles estavam ligados de alguma forma, e ela achou bonito aquilo. Sorriu.

sábado, 5 de janeiro de 2013

37 - "Ela não sai da minha cabeça"


  "Renato? Renato?"... "RENATO!!"
  É só o Esdras chamando, tentando trazer Renato de volta a realidade. Aquele beijo colocou-o em transe, um estado hipnótico que fazia com que Leila penetrasse e tomasse conta de toda a mente dele.
  Após Esdras ter trazido Renato de volta a realidade, eles foram para casa, porém, não como o de costume. Eles foram a pé, mas Renato parecia não querer conversa, apenas colocou o fone de ouvido e foi para o apartamento desligado, novamente, do mundo. E não importava por onde passava e nem a música que tocava, a única coisa que ele pensava era nela, aquela doce fada que o enfeitiçou com um beijo. Quase três horas se passaram até que ele chegasse no prédio. Cumprimentou o porteiro e subiu.
  Ao chegar no apartamento, entrou, trancou a porta, e se jogou no sofá. Olhando para o teto, sonhava acordado, sonhava com ela sem ao menos piscar. Se isso não é estar apaixonado, eu, sinceramente, não sei o que é.
  A noite chegou, e Renato permaneceu imóvel até agora. Acordado a noite toda, na mesma posição e pensando, o tempo todo, em apenas uma coisa... Não! Em apenas uma pessoa: LEILA!! Pensando naqueles olhos brilhantes, hipnotizantes e profundos que são, pensando na pele macia, na boca que lhe beijara, nas mãos que o tocara... Pensando NELA, Até que adormecera, adormecera com um sorriso no rosto.

  Renato se via numa floresta, se via sozinho na penumbra, mas feliz, por que sabia que não estava sozinho, mesmo os seus olhos dizendo o contrário. E começou a andar. Andava por entre as árvores até encontrar-se num lago, lago aquele que tinha uma água azul, que refletia como espelho a sua face, e que permanecia imóvel como o gelo. Renato se via maravilhado, olhava ao redor, mas só se concentrava naquela água. De repente ele avista pequenos focos de luz como se fossem vaga-lumes, mas ele tinha a certeza de que não era. O que seria então? Fadas? Impossível. Mas, acredite se quiser, o impossível aconteceu. Uma dessas luzes se aproximou-se de Renato e, como mágica, puxou-o até o centro do lago. Ele foi andando sobre a água que, a cada passo, formava pequenas ondas circulares. Quando ele chegou no centro, todas aquelas luzes começaram a girar ao redor dele, até que, aos poucos, alguém começou a surgir como fumaça. Parecia uma garota. Era uma garota. Era Leila.
  Renato fechou os olhos. Mas quando abriu, se viu no nada, sem nada nem ninguém ao seu redor. "Leila!!' ele gritou. E gritou mais fezes cada vez mais alto e cada vez com mais força, até que caiu de joelhos, chorando e sussurrando "eu te amo".