sexta-feira, 4 de abril de 2014

Momentos tristes sem ela - Parte Dois

  Bem vindo de volta ao meu humilde castelo. Curioso para saber mais sobre a minha desgraça? Espero que se divirta. Eu não tenho mais motivos para tal.
  Bem, onde é que eu estava? Ah sim, no banheiro.
  Ao sair vestida com as roupas que lhe dei, veio ao meu encontro. Estava linda. Os cabelos crespos e negros se transformaram em belos cachos castanhos. Mesmo assim, o que me fascinava ainda eram os seus olhos hipnotizantes. Até hoje, depois de tudo, se eu olhasse mais uma vez para aqueles olhos, eu me apaixonaria tal como na primeira vez que eu os vi. Mas continuemos a cronologia do meu desastre.
  Decidi conversar com a moça. Saber seu nome, de onde veio, sua idade... Queria realmente conhecê-la completamente. Ficou muda por uns momentos ao perguntar seu nome. Devia estar envergonhada. Não era pra menos, estava na casa de um estranho que fazia perguntas pessoais. Qualquer um teria uma reação igual. Enfim ela quebrou o silêncio. Gaguejando, falou-me seu nome. "J-Jade". Lindo nome, não?
  Conseguimos, depois de algum tempo ter alguma conversa. Ela estava sem teto, sem família, sem ninguém. Apenas ela e a roupa que lhe cobria. Vivia ela e o pai. Depois de um grave acidente onde ele perdeu uma perna, forçando-o a se aposentar, viviam os dois com um salário mínimo. Mesmo tentando, por dois meses ela não conseguia emprego. Sempre tinha alguém melhor para ocupar a vaga. Certo dia, voltando para casa depois de um dia frustrante em busca do seu ganha-pão, começa a chover. Cada minuto que passa, mais forte ficava a chuva. Ao chegar no bairro, uma surpresa: Um apagão. Não se via um palmo à sua frente. Até que, após algum tempo, ela percebeu o que realmente havia ocorrido. Um desmoronamento de terra havia colocado casas, famílias inteiras abaixo da terra. Homens, mulheres, crianças, velhos, não importa o que sejam, estavam sendo torturados por uma montanha de terra e água sobre eles.
  Num reflexo, correu para o lugar onde seria a sua casa. Jade estava chorando e gritando o nome do pai. Com as suas próprias mãos começou a jogar terra pra cima num movimento desesperados de salvar o seu pai soterrado. Suas lágrimas se confundem com os pingos de chuva, o sangue em seus dedos devido às suas unhas quebradas desaparecem na mesma terra que as quebraram. Sua boca já não sai mais som. As forças para gritar se esgotaram, suas lágrimas secaram, até que ficou imóvel, ajoelhada sobre o monte de terra formada pelo desmoronamento.
  Pela manhã, com a ajuda dos bombeiros, encontraram vários corpos. Amigos, vizinhos, crianças que antes brincavam de bola na rua estavam estirados em fileiras como porcos recém abatidos. Mas nenhum sinal de seu pai. Algumas horas se passaram, até que encontrassem um corpo. Ninguém o reconhecia. A face fora desfigurada pelo teto que desabara em cheio nele. Mas ela o reconheceu. Era o seu pai. Reconheceu pela perna que faltava. Não percebi se, naquele momento, ela teve paz por ter encontrado o seu pai ou rancor por saber que estava morto. Ódio e tristeza tomaram conta dela, até que decidiu enterrá-lo ali mesmo, afinal, lá era a sua casa. Depois do velório, foi direto para aquela praça, onde, 3 dias depois, eu a encontraria.

  Agora chega. Já contei demais. Vou voltar à minha cela e você para a sua [que você chama de casa]. Semana que vem eu continuo. Agora eu tenho que ir. Sou um cara "muito ocupado".

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